São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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EUA ameaçam punir o Japão

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O responsável pelo comércio exterior dos EUA, Mickey Kantor, acusou ontem o Japão de desrespeitar acordo de 1989 entre os dois países, feito para dar a empresas norte-americanas maior acesso ao lucrativo mercado japonês de telefonia celular. Kantor disse que, em um mês, vai anunciar sanções caso o impasse não seja resolvido.
A mais provável sanção é o aumento dos impostos sobre importação pelos EUA de telefones celulares japoneses. Se ela ocorrer, o Japão promete retaliar, o que pode resultar em guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Na sexta-feira passada, os chefes de governo dos dois países suspenderam negociações sobre um amplo acordo comercial.
Kantor disse que o caso da telefonia celular é "clássico da determinação do Japão de manter seus mercados fechados, em especial para os produtos norte-americanos". Os EUA tiveram em 1993 déficit de US$ 60 bilhões na sua balança comercial com o Japão, 20% superior ao de 1992.
A porta-voz da Casa Branca, Dee Dee Myers, afirmou que outras sanções contra o Japão, além das relacionadas ao problema da telefonia celular, estão sendo examindas pelo governo norte-americano. Mas o prazo de um mês dado para se solucionar o caso dos celulares foi considerado sinal de disposição para negociar por parte da administração Clinton.
Pelo acordo de 1989, a Motorola, uma das principais produtoras de telefones celulares dos EUA, teria direito a uma fatia entre 33% e 50% de um mercado da área sul de Tóquio. Mas a grande concorrente japonesa da Motorola, a Nippon, detém 95% do mercado, segundo Kantor.
O governo japonês afirmou que qualquer sanção unilateral dos EUA seria respondida com a suspensão das conversações na área comercial. Tóquio também ameaça recorrer ao Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, organismo internacional que regula o comércio entre os países do mundo).
A comunidade empresarial dos EUA está pressionando a Casa Branca para não iniciar uma guerra comercial contra o Japão. Mesmo companhias que se queixam da falta de acesso ao mercado japonês acham que as consequências de uma guerra comercial seriam piores do que a situação existente.
O diário "The Wall Street Journal", que em geral defende os interesses dos empresários dos EUA, publicou editorial com críticas ao presidente Clinton pela maneira como vem conduzindo o episódio com o Japão. O editorial é intitulado "O Samurai do Arkansas".

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