São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Máfia japonesa ameaça empresas no Brasil

THAÍS OYAMA
ENVIADA ESPECIAL A TÓQUIO

A informação é do Departamento Nacional de Polícia do Japão: pelo menos três filiais de empresas japonesas no Brasil foram chantageadas pela Yakuza (máfia japonesa) no ano passado. A organização criminosa reúne cerca de 35 mil membros e fatura perto de US$ 600 milhões anuais com extorsão, exploração de jogos de azar, prostituição e tráfico de drogas.
No final do ano passado, a polícia do Japão concluiu uma pesquisa sobre a atuação da Yakuza no exterior. Foram enviados questionários sobre o assunto a 1.231 subsidiárias de empresas japonesas estabelecidas em 20 países. No Brasil, foram consultadas 45.
As três filiais brasileiras que afirmaram terem sido vítimas da ação da máfia japonesa relataram o mesmo tipo de chantagem: membros da Yakuza tentaram extorquir diretores de alto escalão ameaçando tumultuar as assembléias de acionistas com a revelação de dados sigilosos sobre as empresas.
Somente uma das empresas consultadas no Brasil admitiu ter colaborado ou cedido aos apelos feitos pelos mafiosos. A polícia não quis revelar os nomes das instituições que foram interrogadas.
O temor que a organização inspira em suas vítimas pode ser medido através do método pelo qual a maioria delas reagiu à abordagem da máfia: 90,8% do total de empresas no mundo que se disseram ameaçadas pela Yakuza se limitaram a reportar o ocorrido à sua sede. Somente 39% delas procuraram a polícia. Os países com mais empresas abordadas pela máfia foram os do sudeste asiático –Taiwan e Tailândia, principalmente.
Segundo Teru Ogino, chefe da 1ª Divisão de Grupos Criminais do Departamento Nacional de Polícia do Japão, o movimento da Yakuza em direção aos países da Ásia e da América Latina está relacionado às modificações sofridas em julho de 1992 pelo código penal japonês, que passou a ser mais rigoroso para com os grupos organizados. "A mudança inibiu a ação das quadrilhas no país e elas agora podem estar buscando outros campos de atuação", disse Ogino à Folha.
No Brasil, além da chantagem contra empresas, a polícia suspeita de que a Yakuza tenha outros interesses: 24 das empresas ouvidas no Brasil pelo departamento disseram ter ouvido rumores de que a organização está envolvida também com o envio de mão-de-obra brasileira para o Japão e com o contrabando de drogas e armas.
Em fevereiro do ano passado, em Shizuoka (região central do Japão), policiais apreenderam 6 kg de cocaína em poder do traficante Takahiro Shiba. Interrogado, ele afirmou que a droga vinha do Brasil e que pertencia ao yakuza Hitoshi Tanabe. A polícia suspeita de que Tanabe continua no país, escondido em uma cidade do Paraná.

A jornalista THAÍS OYAMA viajou a Tóquio a convite do FPC (Foreign Press Center) do Japão.

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