São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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Biógrafo de Keynes critica o monetarismo

JAVIER MORENO
DO "EL PAÍS"

A Enciclopédia Britânica diz que John Maynard Keynes é conhecido "por suas revolucionárias teorias sobre as causas do desemprego prolongado". Mais uma razão para que ele seja atual. Foi isso o que entendeu Robert Skidelsky, que dedicou vários anos de sua vida a escrever uma imensa biografia de Keynes. Em entrevista ao "El País", Skidelsky diz que é necessário uma política governamental ativa para criar empregos.
Pergunta - A chegada de Bill Clinton à Casa Branca supõe o início de um novo reinado do keynesianismo?
Skidelsky - Eu não diria. Clinton só quer equilibrar seu orçamento. Se compararmos suas receitas de pequenos programas com os economistas de Kennedy nos anos 60, compreenderemos a perda de confiança no sistema keynesiano. Os de Kennedy pensavam que poderiam fazer qualquer coisa. Os de Clinton sabem que não podem. E temos consciência de que ignoramos como funcionam os processos econômicos; tentar manejá-los nos mete medo.
Pergunta - Os 13 anos de thatcherismo no Reino Unido parecem uma gigantesca experiência que deu errado.
Skidelsky - Tudo fracassou em parte. Houve uma Idade de Ouro de Keynes que foi se degenerando. Mas, em meados dos anos 60, Keynes estava acabado. Estava gerando uma inflação inaceitável. O monetarismo (aplicado por Thatcher) teve êxito: reduziu os índices de inflação. Isso é um sucesso.
Pergunta - Foi só esse o sucesso. Hoje o desemprego é muito maior do que antes de Margaret Thatcher, os impostos são mais altos que durante o último governo trabalhista.
Skidelsky - Concordo. O monetarismo não funcionou. Mas o keynesianismo tampouco funcionou em sua etapa final.
Pergunta - De qualquer modo, Keynes tem hoje muito mais prestígio do que no início dos anos 80, quando parecia bem enterrado.
Skidelsky - No início dos 80, o problema era a inflação. Os monetaristas venderam a idéia de que podiam reduzir a inflação sem maiores custos para o emprego: um erro. Agora, a inflação está muito baixa e o desemprego muito alto. Quando 23% da população ativa está desempregada, como na Espanha, está na hora de ver se Keynes pode trazer uma solução.
Pergunta - E pode?
Skidelsky - Sim. Só que uma vez que o desemprego se manifesta, já é tarde para aplicar as idéias defendidas por Keynes –ou seja, aumentar a demanda– sem maiores complicações.
Para que as receitas keynesianas funcionem, é preciso que não haja história de inflação e que as contas estejam saneadas. Em caso contrário, acho que não é possível aplicar suas receitas.
Pergunta - O que os governos europeus podem fazer agora para reduzir o desemprego?
Skidelsky - Observe como funcionou o período entre 1945 e 1965 –grande expansão, elevados crescimentos, pleno emprego. O que havia era câmbios fixos, confiança e expansão do comércio. Existem enormes possibilidades de se abrirem as fronteiras européias com o Leste. Acho que Keynes, hoje em dia, tentaria investimentos na Europa Oriental. Isso poderia tirar o Ocidente da recessão.

Tradução de Clara Allain

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