São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 1994
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o cacique da ALDEIA GLOBAL

IGNACIO CARRIÓN

Ted Turner nasceu em Cincinnati (Ohio, EUA) há 54 anos e entrou no cinema pela primeira vez aos 18. Com uma "idéia simples", construiu um império de telecomunicações. Sua CNN (Cable News Network), canal de televisão criado em 1980, transmite notícias 24 horas por dia e atinge 140 milhões de lares em 200 países. O marido da atriz Jane Fonda não se incomoda de ser indicado ao prêmio Nobel. Ele quer a paz mundial
Por Ignacio Carrión*

- O sr. continua rico?
- Quando comprei a filmoteca da Metro-Goldwin-Mayer, em 1986, fiquei sem dinheiro. Agora já estou recuperado. Mas não basta ter 3.500 filmes clássicos (o tamanho do acervo da MGM), é preciso fazer produções próprias, como nos velhos tempos. Quero fazer uns 40 filmes por ano.
- Por quê?
- Quando eu era criança, meus pais não me deixavam ir ao cinema. Entrei em um pela primeira vez aos 18 anos. As coisas que nos foram proibidas são as que mais desejamos.
- Ok, o sr. vai entrar para o ramo do entretenimento. Mas com isso a CNN não perde importância?
- Não, uma coisa não exclui a outra. O público quer notícias mas também quer diversão.
- Como surgiu a idéia de criar uma emissora de televisão só de notícias?
- Foi muito fácil. Fiz a mesma coisa que algumas rádios de Nova York já faziam. Muita gente queria ter notícias a qualquer hora do dia, sem esperar até as 11h, por exemplo, para saber o que estava acontecendo no mundo. Foi essa a idéia, uma idéia com a qual era impossível não dar certo.
- O que o sr. acha do Sky News, o canal de notícias do concorrente Rupert Murdoch?
- O Sky News está perdendo dinheiro, enquanto a CNN está ganhando. Quanto ao resto da concorrência, nos Estados Unidos sobretudo, as grandes redes são muito poderosas. Mas, desde nosso sucesso mundial com a cobertura da Guerra do Golfo, as emissoras tiveram que reforçar seus noticiários. Antes elas perdiam dinheiro com eles, agora estão ganhando.
- O sr. não acha que muitas vezes se dá às notícias um tratamento sensacionalista?
- O que me interessa é a verdade, a qualidade. A credibilidade. Não quero escândalos. Num conflito, todas as partes envolvidas devem expressar seus pontos de vista. Por isso a maioria dos líderes mundiais assiste a CNN.
- O sr. não teme ser manipulado?
- Repito que procuramos sobretudo a verdade. Não queremos prejudicar ninguém. Na época da Guerra do Golfo fomos criticados por deixarmos Saddam Hussein expor suas idéias, por monstruosas que fossem. Essas críticas não me afetaram, acredito que ele tinha direito a isso. Peter Arnett (correspondente internacional da CNN) poderia ter morrido ali -poderiam tê-lo matado por acreditarem que transmitia informações prejudiciais aos iraquianos. Ele dizia exatamente onde caíam as bombas. Quando se trata de uma crise, o problema palestino por exemplo, é justo entrevistar também Arafat e não apenas a outra parte. Nenhum líder político até agora se queixou do tratamento que recebeu em nossos noticiários. Todos têm direito a serem ouvidos, mesmo que estejam loucos.
- Como o sr. vê o futuro da imprensa escrita?
- Os jornais têm que se esforçar agora para fazer um trabalho em profundidade, porque as notícias já são ouvidas pelo rádio e vistas pela televisão. No futuro, os jornais serão lidos na tela da televisão. Não haverá papel.
*DO "EL PAÍS"/ TRADUÇÃO CLARA ALLAIN

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