São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 1994
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Obra trata da decadência

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

O cineasta Derek Jarman foi um dos mais importantes experimentalistas das últimos décadas. Sua narrativa abandona a linearidade da literatura e aproxima o cinema da elaboração visual da pintura e da evolução abstrata típica da música.
Esse impulso de inovação formal o tornou tão reconhecido em um pequeno círculo intelectual e artístico quanto impopular junto ao grande público. Seus filmes nunca foram sucessos de bilheteria. Eram normalmente produções baratas, financiadas pelo próprio cineasta, amigos e pelo Estado ou TVs.
Jarman deu, junto com Peter Greenaway, um grande impulso criativo ao cinema britânico nos anos 80. Curiosamente, esses dois diretores sofreram grande influência da pintura e da música. Jarman entrou mais profundamente nessas áreas. "Caravaggio" faz uma biografia em claro-escuro do pintor barroco italiano. "War Requiem" é uma dramatização da obra do compositor Benjamin Brittan.
Duas das referências mais próximas de Jarman são o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, pelo sua estética sem compromisso, e o pintor americano Andy Warhol, que também levou à tela uma fusão de pintura com o ambiente ao seu redor.
Seus filmes tratam da decadência do Reino Unido, uma sociedade descrita por Jarman como "racista, imperialista e sexista". "Aumentem a música, assim não vamos escutar o mundo desabando", diz uma personagem de "Jubilee".
Outros temas recorrentes na obra de Jarman são a religião (fonte de auto-repressão), o campo (onde o cineasta morava) e a identidade gay. "Se meus filmes são gays, é por que eu quis mostrar solidariedade com pessoas que foram privadas de uma cultura e de uma imagem com as quais se identificar", disse o cineasta em 1991. (HuSa)

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