São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 1994
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'Verruga' em órgão genital é transmitida por um vírus

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma nova epidemia está tomando fôlego em todo o mundo e já ocupa um dos primeiros lugares entre as doenças sexualmente transmissíveis. O responsável é o vírus HPV (Papilomavírus). Estudos apontam que entre 15 e 30% das mulheres apresentam algum tipo de lesão pelo HPV. O vírus também tem relação direta com alguns tipos de câncer ginecológico.
O HPV cresce principalmente nas células que revestem os órgãos genitais. Ele causa o aparecimento de uma lesão em forma de verruga –chamada de condiloma ou "crista de galo". Muitas das alterações não são visíveis a olho nu. Nesses casos, só o médico munido de exames auxiliares pode detectar a presença do HPV. A maioria das mulheres não sente nenhuma mudança e nem desconfia de que é portadora de uma lesão. Os sintomas são pouco específicos, tais como coceira na região da vulva e dor durante a relação sexual.
Jorge Milhem Haddad, ginecologista do Centro de Referência da Saúde da Mulher, explica que os especialistas não sabem se o aumento no número dos casos é um fenômeno isolado da última década ou se foi a melhora nos métodos de diagnóstico que revelou uma situação que já existia. Pesquisa recente realizada no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) revelou que cerca de 18% das mulheres que foram ao ambulatório de ginecologia tinham alguma lesão pelo HPV. As principais vítimas são mulheres na faixa dos 20 aos 35 anos.
O tratamento vai depender da forma e da localização do HPV. "Queimar" ou destruir a lesão com agentes químicos ou físicos, retirá-la em pequenas cirurgias ou usar laser são algumas alternativas.
Segundo Haddad, o exame ginecológico anual deve ser minucioso. Além do Papanicolau, o médico realiza o "raspado" de células da vulva –onde estão mais de 50% das alterações feitas pelo HPV.
Nadir Oyakawa, responsável pelo ambulatório de condiloma e neoplasia do Hospital das Clínicas da USP e pelo setor de laser do Centro de Referência da Saúde da Mulher, explica que o vírus é resistente e muito contaminante.
Usar preservativo durante toda a relação sexual e não compartilhar objetos de uso íntimo, como calcinhas, sabonetes e toalhas são medidas básicas. As consultas anuais permitem detecção precoce e determinam melhor resultado no tratamento. O parceiro também deve ser examinado pelo urologista. A camisinha precisa ser usada nos primeiros seis meses –período em que a chance do vírus voltar a se manifestar é maior. Retornos ginecológicos trimestrais no primeiro ano também são importantes para evitar a reincidência.
"Trinta por cento dos casos têm regressão espontânea mas são poucas as que querem esperar para ver se esse processo vai acontecer com elas", diz Nadir.

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