São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 1994
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Catracas do desemprego

Vem crescendo em todo o mundo a preocupação com uma tendência internacional de agravamento do problema do desemprego. As perspectivas nos países desenvolvidos, de fato, são de que o contingente de desocupados deve continuar a aumentar mesmo no caso de crescimento econômico. Isso se deve em boa parte aos sucessivos avanços tecnológicos e às mudanças na gestão administrativa –à maior produtividade, enfim.
Note-se ainda que essa tendência, se se encontra muito mais adiantada no setor privado, alcança também o setor público dos diversos países. Os crescentes desequilíbrios financeiros de vários governos resultaram numa pressão por maior austeridade e eficiência que se vem manifestando da França aos Estados Unidos e (ainda que de forma incipiente) ao Brasil. Esse movimento, porém, tem como contrapartida –e este é talvez o maior dilema deste final de século– o aumento do desemprego estrutural, com todos os custos sociais e econômicos que isso representa.
É exatamente nesse contexto que se insere a recente decisão da Prefeitura de São Paulo de substituir os cobradores por catracas eletrônicas nos ônibus urbanos. A utilização de uma nova tecnologia, com aumento de produtividade, contrapõe-se a uma leva de demissões (são cerca de 20 mil cobradores) e à extinção definitiva de postos de trabalho.
A busca de eficiência que engatinha no poder público já se havia manifestado no setor privado da economia brasileira nos últimos anos de crise. Mais enxutas e mais eficientes, as empresas dificilmente voltarão a seus níveis de emprego anteriores mesmo com um aquecimento da demanda. É o mesmo fenômeno que leva grandes corporações nos EUA a continuar a demitir apesar da recuperação em curso.
O enorme desafio que se coloca então, para o Brasil como para o mundo, é conter a bola de neve do desemprego criando novas oportunidades em ritmo suficiente para absorver não só os recém-demitidos como os que todos os anos tentam ingressar no mercado de trabalho. Um desafio que a economia global parece hoje inquietantemente despreparada para enfrentar.

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