São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
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EUA detêm acusados de espionagem

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um alto funcionário da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) e sua mulher foram presos e acusados de terem espionado para a ex-União Soviética e para a atual Rússia desde 1985. O caso, que o presidente Bill Clinton classificou de "muito sério", é o mais importante do gênero desde o do casal Rosenberg, em 1951, e o primeiro desde o fim da Guerra Fria.
Aldrich Hazen Ames, 52, foi o chefe do grupo de contra-inteligência para a União Soviética entre 1983 e 1985. Nessa condição, ele era encarregado de impedir a ação de espiões soviéticos em território norte-americano. Sua mulher, Maria del Rosario Casas Ames, 41, nascida na Colômbia, trabalhou para a CIA no México, mas, nos últimos anos, apenas estudava em Washington.
Os dois foram presos na segunda-feira. Ontem, foram levados a uma corte federal em Alexandria (região metropolitana de Washington), para ouvirem as acusações. Se condenados, estarão sujeitos à pena máxima de prisão perpétua e multa de US$ 250 mil. Os dois foram vistos ao saírem do tribunal. Maria tentava esconder o rosto. Ambos estavam algemados.
O FBI (polícia federal) e a CIA investigaram os Ames durante oito meses, desde que documentos ultra-secretos que nada tinham a ver com suas funções atuais foram encontrados no escritório dele, na divisão de combate a narcóticos da agência. A residência do casal ficou sob vigilância eletrônica e pessoal e o lixo doméstico era vasculhado todos os dias.
No lixo, por exemplo, foi encontrada uma fita de máquina de escrever que permitiu a reconstituição de uma nota escrita por Ames para um contato soviético em 1992. De acordo com a acusação, ele deixava documentos secretos, em especial sobre operações e pessoal da CIA, em locais combinados, para serem depois recolhidos por agentes da KGB (o serviço secreto da ex-URSS).
O casal Ames teria recebido US$ 1,5 milhão pelos seus serviços de espionagem para soviéticos e depois para russos, segundo a denúncia. Seu padrão de consumo era muito superior ao permitido pelo salário anual de US$ 69.800 que ele recebia da CIA. Eles moravam em uma casa de US$ 540 mil, tinham um automóvel Jaguar e gastavam US$ 50 mil por ano com cartões de crédito.
Aldrich e Maria se conheceram na Cidade do México, onde ambos trabalhavam para a CIA. Casaram-se em 1985. Ele também serviu em Ancara (capital da Turquia) antes de assumir posições no quartel-general da CIA, na região de Washington.

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