São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Ético sou eu"

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – "Cansei de apanhar e ficar calado. Ético sou eu e não meus inimigos." Com essa frase, Orestes Quércia justifica o tiroteio (pouco ético, aliás) contra seus adversários, envolvendo insinuações sobre vida sexual, familiar e comercial. O leitor prepare-se: o jogo da sucessão presidencial é duríssimo.
O alvo prioritário, por enquanto, são os tucanos. Orestes Quércia e assessores estão convencidos de que conseguiriam atingir o PSDB, atacando seu secretário-geral, o empresário Sérgio Motta, apontado como caixa dois de campanhas eleitorais.
Motta é íntimo amigo do deputado José Serra e sócio de Fernando Henrique Cardoso num empreendimento imobiliário –e, de resto, está na cúpula do partido. Esse seria um revide engatilhado caso os tucanos batessem no famoso "Zé Português", apontado como caixa dois de Orestes Quércia. "O Quércia pretende insinuar que todos são ladrões para tentar igualar o jogo", analisa Tasso Jereissati, presidente do PSDB.
O próprio Tasso, habitual crítico de Quércia, viu voltar às páginas de jornais um rumoroso caso sobre importações envolvendo seu falecido pai, Carlos Jereissati –diga-se, entretanto, que seu pai foi absolvido no Supremo Tribunal Federal.
Uma eleição é ambiente propício ao lançamento de malediciências: um amplo segmento do eleitorado tende a ver em todo político um larápio. Quando se consegue neutralizar uma acusação, muitas vezes é tarde demais.
PS – Depois que tivemos como presidentes José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco, qualquer analista político brasileiro se acostumou a trabalhar com o inesperado. Caso Orestes Quércia vença, mais uma vez veremos que, no Brasil, nada mais previsível do que o imprevisível: 1) as pesquisas de opinião mostram que o eleitor privilegia a imagem de honestidade; 2) Quércia não tem apoio das lideranças mais populares de seu partido, ameaçado de rachar; 3) não é o candidato dos empresários nem dos trabalhadores; 4) não tem apoio do governador de seu Estado, Luiz Antonio Fleury Filho; 5) está mal nas pesquisas; 6) tem forte reação de importantes veículos de comunicação.

Texto Anterior: Cheiro de prefixação
Próximo Texto: Democracia e oligarquia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.