São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 1994
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"Propaganda" questiona o império das imagens

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Programa: Propaganda - O Poder da Imagem

Produção: Instituto Nacional do Audiovisual, França
Emissora: Série em seis episódios, exibidos de segunda a quinta, na Cultura.
Hoje, 4.º episódio, às 23h20

"Propaganda - O Poder da Imagem" é o tipo de série que poderia ser adotada com proveito nos currículos escolares. Os responsáveis pelo programa vasculharam uma multidão de arquivos de filmes (russos, norte-americanos, franceses, ingleses, alemães) e selecionaram imagens produzidas pelas agências oficiais desses países que compõem uma formidável ilustração da história do século 20, tal como vista por seus protagonistas.
Mas esse aspecto –ainda que relevante– torna-se secundário frente à questão central proposta, e que não será exagero designar como um dos problemas centrais da era contemporânea: o que é a imagem, como manipula a realidade, como organiza a maneira de populações inteiras verem as coisas.
Alguns exemplos tornam mais claro o tipo de investimento dos governos na imagem. Quando os soviéticos sentem-se ameaçados de agressão pelos nazistas, na década de 30, providencia-se a realização de "Alexandre Nevski", épico de Eisenstein sobre a expulsão dos cavaleiros teutônicos de solo russo, no século 13. Menos sutis, por vezes, mas não menos eficazes, os nazistas comparam judeus a ratos para convencer o povo alemão de por que e como devem combatê-los.
São casos em que o cinema serve a determinados objetivos, está claro. Mas, vistos retrospectivamente, esses exemplos (e outros) nos colocam diante de outra situação. A imagem não serve a objetivos de tal ou tal governo: por sua penetração e seu modo de recepção, ela é um elemento constituinte da história contemporânea.
"Propaganda - O Poder da Imagem" avança na originalidade da imagem cinematográfica. Ela não é recebida pelo espectador como uma montagem, mas como expressão fiel da realidade. Daí vem seu poder. A série procede a uma desmontagem cuidadosa desse processo em que um real é construído e transformado em conjunto de idéias.
Esperto, o programa não se detém na imagem cinematográfica. Avança sobre esta nova "arma de guerra" que é a televisão. Aí as coisas tornam-se ainda mais complexas, pois a TV, por definição, é uma máquina de transportar o real até nossas casas ao vivo. "Propaganda - O Poder da Imagem" é um inventário exemplar, indispensável, da maneira como a imagem constitui seu império.

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