São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 1994
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Pela união das esquerdas nas eleições de 94

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO; ROBERTO FREIRE

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO
ROBERTO FREIRE
No segundo semestre deste ano a cidadania brasileira tem encontro marcado com as urnas e com a história. Além da renovação política no âmbito estadual, vai se pronunciar sobre o futuro do país. Irá optar por programas de governo que podem reproduzir a ordem vigente de perversas desigualdades sociais e de exclusão ou projetos de transformação que reforcem os elementos democráticos que nos acompanham e projetem o Brasil em um mundo mais integrado e mais plural.
Não está em jogo a sorte de um político, de um partido, de uma aliança conjuntural, de um determinado projeto de modernização ou de crescimento econômico. Está em jogo uma nova forma de fazer política e um programa de desenvolvimento consoante os interesses da maioria da nação.
O bloco político responsável pela condução dos destinos do Brasil até agora, em suas várias feições e apoiado em segmentos herdeiros do autoritarismo, fracassou. Mesmo proclamando a modernidade, reafirma os velhos valores de excludência, do individualismo e, no campo econômico, de concentração de renda.
Um novo bloco político, nascido da crítica ao velho sistema e respaldado em formações sociais e culturais contemporâneas, há que se impor e transformar-se em alternativa a toda a sociedade. E ele tem que conformar uma aliança histórica, pela democracia e pelo Brasil.
Deste novo bloco devem participar a esquerda do PMDB, o PSDB, o PT, o PPS, o PSB e todas as demais forças democráticas e de esquerda sem nenhuma exclusão. Ele deve valorizar a identidade política de cada agremiação e ter a dinâmica processual que gere a capacidade de, unido, enfrentar os desafios colocados pela realidade brasileira.
O realismo diz que neste bloco democrático o partido com mais trunfos para indicar um candidato à Presidência da República é o PT. Exatamente porque tem chances de chegar ao segundo turno independentemente, inclusive, de qualquer outra aliança.
O fato, contudo, não coloca o PT como força hegemônica na maioria dos Estados da Federação, em que pese deter chances eleitorais em alguns deles. Outros partidos, neste caso, ocupam uma posição eleitoralmente preponderante, e entre eles citamos o PSDB.
Não podemos continuar imobilizados frente ao avanço da articulação de segmentos conservadores e de direita que, habilmente, buscam agregar em torno de seu projeto o centro democrático e, assim, ostentar uma face ética e moderna que não lhes são próprios. Temos de reagir a esta cruzada contra a ascensão da esquerda, inclusive demonstrando aos democratas que seus projetos só podem se viabilizar nos marcos do campo da renovação.
A crise do Estado brasileiro, afinal, não divide as esquerdas e os demais segmentos democráticos; separa, isto sim, estes segmentos daquelas forças que colocaram o Estado a seu serviço, fomentaram a corrupção como norma de conduta e empurraram a grande maioria da população para a miséria e para as bordas da cidadania.
Esta nova visão não está condicionada pela ótica do sucesso das urnas, embora fundamental. É importante salientar que ela se fundamenta na necessária organização com anterioridade do bloco de forças que terá incumbência de governar. Um bloco heterogêneo do ponto de vista político, que tenha a sua unidade cimentada na concepção mais larga da generosidade.
Sem abandonar os princípios, há que se deflagrar uma rebeldia democrática no Congresso Nacional e em todos os níveis de militância e do exercício da cidadania, criando-se movimentos, núcleos unitários democráticos e de esquerda nos municípios, escolas, fábricas, campo, áreas profissionais.
Por que não imaginarmos que desta compreensão e por força das pressões da cidadania não tenhamos uma chapa à Presidência da República competitiva eleitoralmente e com garantia de governabilidade, integrada pelo PT e PSDB?
Há que se buscar o máximo de coerência, mas os palanques estaduais não podem se constituir obstáculo à unidade em torno de um palanque nacional de corte nitidamente democrático e progressista. Se conseguirmos, por exemplo, viabilizar a unidade em torno da candidatura de Mario Covas em São Paulo desde o primeiro turno, estaremos criando uma tensão em todos os partidos deste campo para que em outros Estados e nacionalmente esta mesma conformação possa se reproduzir.
Nada do que propomos é impossível. Com generosidade só basta coragem, tolerância e vontade autêntica para construir um melhor futuro para os brasileiros e as gerações que virão.

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO, 63, advogado, foi deputado federal pelo PT de São Paulo (1985-91) e líder do partido na Câmara dos Deputados (1988). Disputou as eleições para o governo do Estado de São Paulo em 1990.

ROBERTO FREIRE, 51, é deputado federal pelo PPS de Pernambuco e presidente nacional do partido. Foi líder do governo na Câmara dos Deputados (governo Itamar Franco) e candidato à Presidência da República pelo PCB nas eleições de 1989.

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