São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Como a data de pagamento afeta os salários

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Seis pessoas com salário nominal idêntico num determinado mês podem receber salários reais com diferenças de até 32,36%? O quadro ao lado mostra que sim. Basta que a inflação corra num ritmo de 40% ao mês e os salários sejam pagos em diferentes datas.
Mesmo na data-base, mês do chamado pico, o salário real sofre forte corrosão entre o dia 1º e a data do pagamento. Com uma inflação de 40%, o salário real tem queda de 28,57% na hipótese de ele ser todo pago exatamente um mês depois. Ninguém recebe o salário antes de trabalhar.
O quadro traz diferentes datas de pagamento dos salários e, para que as perdas fiquem mais claras, considerou-se que no primeiro dia do chamado mês de competência o salário equivale a US$ 1.000.
A menor perda dentro de um único mês é de um empregado que recebe todo o salário no dia 20. Dos US$ 1.000 iniciais ele recebe, de fato, o equivalente a US$ 779,04. É o caso dos funcionários do Banco do Brasil.
No outro extremo estão apenas os aposentados do INSS que recebem no 12º dia útil do mês seguinte ao de competência. Os US$ 1.000 viram nada menos que US$ 603,68 dentro de um único período. A perda chega a 39,63%. Inflação de 40% ao mês supera 65% em cerca de 45 dias corridos.
A diferença entre os US$ 799,04 e os US$ 603,68 é de 32,36%. O INSS paga as aposentadorias entre o 1º e o 12º dia útil do mês seguinte. O setor privado tem como prazo-limite o 5º dia útil do mês seguinte e como prática usual, expressa até nos acordos coletivos, os adiantamentos.
Se a inflação mensal salta para 50%, quem recebe salário no final do mês embolsará apenas US$ 666,67 dos US$ 1.000 iniciais. A perda em 30 dias é de 33,33%.
A conversão de salários e aposentadorias para URV, independentemente de pico ou média, terá pelo menos a vantagem de o poder aquisitivo existente no primeiro dia do mês ser preservado até a data do pagamento.
Na fase da URV –cujos valores diários vão refletir a inflação–, a empresa fará a reconversão do salário para cruzeiros reais pelo valor que essa unidade tiver na data de pagamento. Será assim até a reforma monetária que converterá a URV em nova moeda, estabilizando a inflação. Se ela voltar, os salários voltam a perder.

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