São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Por que sou candidato

ORESTES QUÉRCIA

A minha decisão de concorrer, na convenção do PMDB, à candidatura do partido à Presidência da Repúbica, ratificada por 410 prefeitos paulistas na última quinta-feira, tem duplo significado.
De um lado, é uma atitude de resistência a grupos menores que atuam no partido com objetivo de descaracterizá-lo, de vender a sua herança histórica e o seu passado de combatente democrático a nossos adversários. A imprensa noticiou as tentativas de algumas lideranças irresponsáveis de, por intermédio de alianças espúrias, pulverizar a força nacional do PMDB em troca de apoio para aventuras pessoais desprovidas de conteúdo ideológico e partidário.
De outro, porque o PMDB tem o direito e o dever de ser o governo federal neste país, pois o Brasil precisa do concurso de um partido organizado nacionalmente, articulado em todas as instâncias, capaz de implantar um projeto de desenvolvimento e resgate da dívida social.
O PMDB liderou, com os segmentos mais representativos da sociedade civil, a redemocratização do país. A história recente registra o alto preço pago pelo MDB/PMDB na luta contra o regime militar. Em momento algum o MDB/PMDB esmoreceu, especialmente sob o comando do companheiro Ulysses Guimarães.
Nessa época, era preciso coragem para assinar a ficha de inscrição do partido. Coragem para desafiar os poderosos do dia e suportar a pecha de "subversivo" e suas odiosas consequências. Com determinação e serenidade, visitei o Estado de São Paulo inteiro mostrando às lideranças políticas e a todos os companheiros a possibilidade de resistência democrática por intermédio de um partido de oposição comprometido com o retorno ao Estado de Direito, o desenvolvimento econômico, o aumento de oportunidades para todos os brasileiros, a luta contra a miséria e a justiça social.
Desde o primeiro momento, os companheiros de São Paulo foram a grande força do MDB/PMDB. Ao decidirem filiar-se ao partido e organizar os diretórios municipais durante a ditadura militar, tornaram possível a criação de um grande partido popular e democrático.
Hoje, se deixarmos os vendilhões do partido avançarem em suas sórdidas manobras divisionistas, veremos o PMDB esbulhado do seu direito e dever de disputar a Presidência da República e de governar o Brasil.
O PMDB é o único partido brasileiro em que a tradição anda de mãos dadas com o compromisso com o futuro. Não somos oportunistas, nem pretendemos trair a nossa tradição de país cristão, democrático e vocacionado para o desenvolvimento ético, econômico e social. Vivemos um momento difícil e o superaremos, pois somos um povo de fibra.
Depois do impeachment de um presidente corrupto e inconsequente, graças à articulação da sociedade civil por seus mais legítimos representantes, somos obrigados a conviver com um presidente da República empenhado em aparentar honestidade, mas revelando uma catastrófica incompetência para gerir os negócios do país. Um presidente incapaz, sequer, de impor a autoridade inerente ao cargo ocupado e que delega ao ilusionista da ocasião a missão impossível de transformar o país em um passe de mágica.
O Brasil está cansado de mágicas: quer competência, decisão, planejamento, políticas efetivas, confiabilidade, honestidade.
O PMDB é o partido em condições de reunir todos esses atributos em benefício da construção de um Brasil maior, mais justo e mais humano para os seus filhos. O PMDB é o instrumento destinado a devolver ao povo brasileiro a auto-estima criminosamente roubada por corruptos e incompetentes e a preparar o Brasil para entrar no século 21 em condições de enfrentar e vencer todos os desafios.
O projeto nacional de desenvolvimento do PMDB está sendo revisado e atualizado por intelectuais, lideranças de trabalhadoes e empresários, representantes dos diversos segmentos sociais e militantes do partido.
O PMDB sempre possuiu um projeto para o Brasil, mas não teve a oportunidade de colocá-lo em prática em âmbito nacional. O governo Sarney, enquanto programa, não representou nossos ideais. Hoje, o senador José Sarney é um companheiro peemedebista que admiro, mas na época aglutinava as forças reunidas em torno do falecido presidente Tancredo Neves e não estava, por razões óbvias, comprometido com o programa de desenvolvimento do PMDB.
Nosso projeto é voltado para a erradicação da miséria que massacra a maioria do povo brasileiro e humilha o país. A eliminação da miséria somente será possível com a implantação de um projeto nacional de desenvolvimento que leve em consideração as diferenças regionais de um país-continente e promova a criação de novos empregos, ampliando consideravelmente o mercado de trabalho no campo e nas cidades, incentivando os empresários da indústria, da agricultura e do comércio, desenvolvendo tecnologia e atraindo capital internacional produtivo disposto a concorrer para o nosso crescimento.
Vou para a convenção do PMDB com o intuito de servir ao meu partido e à nação com a experiência acumulada em 30 anos de vida pública, na qual galguei todos os patamares pelo voto direto, sempre com o apoio e aprovação da população.

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