São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 1994
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Capital não é indispensável, diz consultor

NELSON ROCCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo o consultor, jornalista e empresário José Antonio Rosa, 41, é possível aprender a ser um empresário frequentando cursos. Características básicas fundamentais a um empreendedor, como motivação, disciplina, iniciativa e persistência, também podem ser assimiladas, diz Rosa.
Dono da STS Editora, Rosa desaconselha o uso de financiamento para abrir um negócio próprio e diz que com pouco dinheiro dá para começar. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha, no São Paulo Center Hotel, na manhã de terça-feira, dia 22. (Nelson Rocco)
Folha - Como a pessoa pode saber se está preparada para abrir um negócio?
José Antonio Rosa - Existem testes em cursos do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). O essencial é a preparação mental do sujeito. Se ele estiver mentalmente preparado, tem condição de começar o negócio bem. Frequentemente as pessoas superestimam o valor do capital. Dizem que queriam começar um negócio próprio mas não têm capital. Capital não é necessário, ao menos no volume em que as pessoas pensam. Com capital mínimo já dá para começar.
Folha - É possível aprender a ser um empresário?
Rosa - As pessoas podem aprender. Durante minha experiência com centenas de turmas de grandes empresas, percebi que existem quatro condições que são fundamentais para ser empresário.
Folha - Quais são essas condições?
Rosa - São motivação, disciplina, iniciativa e persistência.
Folha - Na prática, como se aplicam esses conceitos?
Rosa - Eu sou pequeno empresário, tenho uma editora. Tenho motivação enorme para lidar com livros. Se eu estiver ganhando dinheiro é excelente. Senão, está bom também porque o trabalho é uma fonte de prazer. Motivação é fundamental para o indivíduo ter uma qualidade de vida boa e garra no trabalho.
Folha - Qual a importância da disciplina?
Rosa - Ela é fundamental ao lidar com dinheiro, ao lidar com colegas, com a qualidade, com empregados. Sem disciplina ninguém se torna um patrão.
Folha - Como se aplica a iniciativa?
Rosa - A vida na pequena empresa é marcada por sucessivos problemas e, para resolver, a única coisa que não se pode fazer é cruzar os braços. Surgindo um problema, o empresário deve pensar na alternativa e partir para soluções.
Folha - Quais são os princípios básicos que a pessoa precisa ter para saber se está apta a ser um empresário?
Rosa - Muita gente inicia o negócio com precários conhecimentos de administração, mas tem dentro de si um senso de organização, de ordem e o mínimo de conhecimento de orçamento e números. É preciso ter noções da filosofia de marketing, de controle do dinheiro e orçamento.
Folha - Que caminho você recomenda para a pessoa começar a adquirir qualidades para se tornar um empresário?
Rosa - A melhor maneira é frequentar cursos. Existe uma rede de opções no mercado, como Sebrae e Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), federações das indústrias e sindicatos. Além disso, há uma série de atitudes que deve desenvolver sozinho. Em motivação, por exemplo, o conselho é: dedique-se a algum negócio de que realmente você gosta. Não faça negócio nenhum por dinheiro apenas. É bom, também, pedir ajuda a outras pessoas que possam complementar lacunas de comportamento.
Folha - Como avaliar que tipo de negócio é mais aplicado a determinada personalidade?
Rosa - A melhor forma é se submeter aos testes vocacionais típicos, aplicados em universidades. Quando o indivíduo está incerto sobre o que mais gosta, deve esperar mais tempo até que uma idéia boa apareça e ele se enamore dela.
Folha - Você diz que dinheiro não é muito importante. Mas é um detalhe fundamental. Sem capital não dá para começar nada. Financiamento bancário é uma boa alternativa?
Rosa - Eu entendo que não. Os financiamentos, por mais que sejam favoráveis, são insuportáveis para as pequenas empresas. Financiamento implica em que você já tenha uma administração mais sofisticada do ponto de vista financeiro. Ele é bom para quem sabe pegar. Quem empresta dinheiro sem a devida estrutura acaba virando vítima do financiamento.
Folha - Como começar sem capital?
Rosa - Dentro da faixa de negócio de que você gosta, sempre há possibilidades de começar sem capital. Pode começar com representações comerciais, prestação de serviços. Depois pode evoluir.
Folha - Devido a seus contatos durante aulas e seminários, você tem condições de traçar o perfil do empreendedor brasileiro?
Rosa - Vamos separá-los em duas categorias. A velha geração é composta por pessoas mais incultas, que começaram negócios simples e que prosperaram a partir da qualificação pessoal e do talento. Mas eles correm o risco de, numa economia mais competitiva, não ter qualificação para tocar o próprio negócio. A nova geração de empresários tem muita gente egressa das gerências empresariais, outros que vêm de profissões técnicas de alto nível, que mudam de profissão pela qualidade de vida. Podemos encontrar empresários com formação pesada. É o típico PhD atrás do balcão de loja.
Folha - Quais os problemas mais comuns que os empresários enfrentam nos novos negócios?
Rosa - Eles reclamam muito da legislação e de estar sufocados pelo governo no que se refere aos impostos. Talvez não seja o fato objetivo em si, a carga tributária tão pesada. Mas o pior é que a burocracia faz com que qualquer pequena empresa se torne vulnerável.

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