São Paulo, terça-feira, 1 de março de 1994
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Fleury depõe e nega responsabilidade

FREDERICO VASCONCELOS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Fleury depõe e nega responsabilidade
Governador diz, no STJ, que não teve 'qualquer participação' na compra de equipamentos para a polícia
O governador Luiz Antonio Fleury Filho "lavou as mãos" eximindo-se de qualquer responsabilidade sobre as importações irregulares de Israel, em entrevista coletiva que concedeu ontem, em Brasília, depois de prestar depoimento sigiloso de mais de duas horas no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
"Eu não tive qualquer participação nessas aquisições, feitas no âmbito da Polícia Civil e Polícia Militar. Os processos de aquisição foram absolutamente regulares", disse Fleury.
Segundo seu próprio relato, o governador manteve a posição anterior e evitou se comprometer com o processo decisório sobre a compra de equipamentos no final do governo Quércia, no total de US$ 310 milhões. A suspeita de superfaturamento dessas importações foi reforçada com a recente comprovação por perícia científica realizada em equipamentos para as universidades.
Fleury vem sendo criticado veladamente por amigos do ex-governador Orestes Quércia, por tentar dividir em partes distintas as importações. E por afirmar que as compras, realizadas quando ele era secretário de Segurança Pública no governo Quércia, foram feitas "no âmbito da Polícia Civil e Polícia Militar".
Com base em depoimentos e documentos anexados aos autos, o Ministério Público Federal concluiu que há "indícios veementes" da participação de Quércia e Fleury nas irregularidades investigadas –suspeita de superfaturamento e evasão de divisas.
Operação de entrada
Foi montada uma operação estratégica para evitar que o governador fosse fotografado nas dependências do STJ. Antes de Fleury, apenas um governador em exercício (Marcelo Miranda, do Mato Grosso) havia deposto no STJ.
Acompanhado de seu advogado, Manoel Bifulco, e de assessores, Fleury utilizou uma rampa lateral, que é usada pelos ministros do STJ e do STM (Superior Tribunal Militar), para poder chegar à garagem sem ser notado pelos fotógrafos.
Fleury não permitiu fotos formais antes do depoimento, prestado no Salão Nobre. "Foi apenas para preservar a imagem do governo de São Paulo, pois quem não deve não teme", disse posteriormente à Folha.
A Folha apurou que o STJ não permitiu que fossem feitas entrevistas na Corte, porque o ex-governador Orestes Quércia manifestou interesse em conceder uma entrevista no Tribunal, após seu depoimento, marcado para a próxima sexta-feira.
Fleury, segundo um dos assessores, estava nervoso ao chegar ao STJ. Posteriormente, o próprio governador se disse tranquilo. Segundo sua assessoria, o governador não acredita que o caso das importações de Israel seja um obstáculo em sua carreira política.
"Prestei depoimento como testemunha e tive oportunidade de dar todos os esclarecimentos necessários. Agora vamos aguardar a decisão do STJ. Estou absolutamente tranquilo", disse.

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