São Paulo, terça-feira, 1 de março de 1994
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Para governo, inflação do Real seria 4,68%

CLÓVIS ROSSI; JOSIAS DE SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, abriu a primeira de uma série de entrevistas ontem com o anúncio de uma nova moeda brasileira. "O Real já está criado", disse FHC, para indicar que a Unidade Real de Valor, ontem lançada, é apenas o embrião da futura moeda brasileira.
Para adoçar o anúncio, Gustavo Franco, um dos pais da nova moeda, disse que um estudo da Fipe mostrou que, se já estivesse em vigor a Unidade Real de Valor (URV), a inflação brasileira em 1993 teria sido de magros 4,68% (ao ano, não ao mês).
Para Gustavo Franco, esse número "é um sinal da inflação estrutural ou em dólar que existe na economia brasileira". O restante viria da inércia inflacionária, justamente o que se tenta romper com a criação do Real.
"A passagem do Cruzeiro Real para o Real nos coloca no mundo que existe no subterrâneo dessa economia. No momento da criação do Real, entraremos nesse mundo novo, um mundo sem resíduos (inflacionários)", devaneou o assessor de FHC.
O devaneio é avalizado não só pelo estudo da Fipe mas também por um levantamento feito pela Comissão Econômica da América Latina (Cepal, organismo da ONU). A Cepal mediu a inflação em dólar de 10 países latino-americanos e mostrou que o Brasil teve a segunda mais baixa inflação de 93, com apenas 1,31% (menos, portanto, do que aponta a Fipe). Só perdeu da Bolívia (0,14%). Ganhou até da Argentina, dolarizada há três anos e na qual a inflação de 93 foi de 7,29%.
Pérsio Arida, presidente do BNDES participante da entrevista, disse, em diálogo paralelo, que a inflação do primeiro mês do Real, após a implantação da nova moeda, será "de zero ou muito próxima de zero".
Até chegar ao "mundo novo" prometido por Gustavo Franco, no entanto, o Brasil vai continuar com seu esfrangalhado Cruzeiro Real. Nele, a inflação se manterá elevada, como admite indiretamente o próprio FHC: "A URV não é um instrumento para a queda da inflação, é para preparar a queda".
Colaborou Ivanir José Bortot, da Sucursal de Brasília.

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