São Paulo, terça-feira, 1 de março de 1994
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Inflação não acaba na transição

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Plano FHC é mais uma tentativa de apagar a memória inflacionária, essa mania de cada agente recuperar as perdas passadas.
Por decreto, o governo obriga os assalariados a aceitarem as perdas sofridas e torcerem por um futuro melhor no mundo novo da moeda "real", onde os contratos são corrigidos apenas a cada 12 meses.
Isso não significa que na fase de transição ao real o aumento da inflação em cruzeiros reais seja algo neutro. Muitos setores podem continuar tentando correr à frente da média.
Olho nos aumentos
Embora o governo prometa ficar de olho nos aumentos abusivos, sabe-se que a máquina do governo não é onipresente. A correção da URV, a Unidade Real de Valor, será feita com base na média de aumentos de preços em vários índices.
Quem vai conseguir ficar acima da média e fazer mais "gordura" para entrar no regime do real é, por enquanto, um mistério. Mas muita gente vai tentar.
Talvez não seja por acaso que o governo acabou deixando tarifas públicas e câmbio ainda soltos na Medida Provisória da URV. Soltos o suficiente para garantir que, na corrida da transição para a nova moeda, esses preços estratégicos não sejam convertidos com base numa média "antiga" (ou seja, calculada para um período de inflação menor).
Salários
Os salários, por definição, deverão ficar exatamente na média. A realidade dos mercados, entretanto, jamais corresponderá exatamente à ficção estatística da média.
As medidas do Plano FHC anunciadas até agora não servem para acabar com a inflação, mas para preparar a desindexação da economia. Em outras palavras, o objetivo não é (com a URV) eliminar a inflação futura, mas apenas fazer com que a economia esqueça a inflação passada.
Outras armas
Assim, ao contrário dos congelamentos em que se tinha certeza de uma inflação muito baixa (pois os preços ficavam diretamente controlados na nova moeda), na URV sabe-se que a inflação vai cair muito, mas continua incerto por quanto tempo ficará suficientemente baixa para justificar a desindexação.
Para combater a inflação em reais vai ser preciso acionar outras armas além do fim da indexação em períodos inferiores a 12 meses. A taxa de juros e a taxa de câmbio serão essas armas cruciais na terceira fase do plano. Isto é, se o governo realmente conseguir equilibrar o orçamento e o Banco Central controlar a emissão.

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