São Paulo, quinta-feira, 3 de março de 1994
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Cinema mente de novo sobre Bonnie e Clyde

ARNALDO JABOR
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A visão desta nova versão da "lenda heróica" de Bonnie e Clyde nos faz meditar sobre dois tipos de assalto: um da indústria americana do reciclamento da mesma idéia e outra sobre a indigência do nosso mercado de vídeo.
Antes disso, falemos sobre este filme: "A verdadeira história de Bonnie e Clyde". Clyde Barrow começa com pequenos assaltos, chega ao homicídio e traça sua trajetória de fuga com a companheira Bonnie, pelo mundo da Depressão americana, assaltando e lutando, até encontrarem a morte no fim de sua viagem de amor e loucura.
Se a primeira versão com Warren Beatty e Faye Duanaway já era uma idealização do fato real de dois pobres diabos filhos da grande crise americana, esta versão escrita e dirigida por Gary Hoffman e estrelada por Tracy Weedham e Dana Ashbrook tenta ser a desdramatização de uma fantasia romântica, só que em vez de buscar o que realmente aconteceu, paraliza-se como um pseudo documentário ingênuo onde se tenta chegar à "verdade" pelo esvaziamento de qualquer espetáculo. O resultado é um aguado filme típico de TV, com um galã que parece uma "cruza" digital de Henry Fonda e James Stewart jovens e uma Bonnie que é apenas uma loura burra aparentada com Faye Dunaway.
A base dramática que sustenta tanto a primeira versão quanto esta absurda refilmagem é antiga na mitologia romântica americana: um casal de marginais foge em nome do amor e luta até a morte contra o sistema repressor que os persegue. Esta base mitológica de marginais heróis na sociedade do trabalho sagrado (chiliques anti-calvinistas) deu algumas obras primas como a novela "Wild Palms" de Faulkner (quem filmará um dia?) ou dramas malcriados como "Sugarland Express".
No caso deste filme, é nada. O filme não merece registro. Apenas me dou ao trabalho de criticá-lo para apontar os dois absurdos de que falei no início. Um da falta de imaginação do cinema-de-produtor que assola com violência a "Indústria" na última década. A causa é a demanda crescente por mais a mais filmes que preencham o espaço audiovisual da mídia eletrônica, resultando na maior hecatombe do nosso mercado importador de vídeos. Qualquer seletividade seria "censura", qualquer legislação seria atentado as leis do "livre" mercado.

Vídeo: A Verdadeira História de Bonnie e Clyde
Direção: Gary Hoffman
Eleco: Tracy Weedham e Dana Ashbrook
Distribuição: Abril Vídeo (tel. 832-1555)

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