São Paulo, quinta-feira, 3 de março de 1994
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Johnny diz que fim do Ramones está próximo

HÉLIO GOMES
DA REDAÇÃO

São poucas as bandas que têm algo a dizer depois de 20 anos de estrada. Com certeza, o Ramones é uma delas. O grupo chega à metade dos anos 90 com uma pedrada batizada de "Acid Eaters", um disco de covers em que a banda mostra todo o seu talento ao recriar clássicos como "Out of Time", dos Rolling Stones, e "Substitute", do The Who.
Um dos únicos membros originais da banda –ao lado do vocalista Joey–, o guitarrista Johnny Ramone falou à Folha de Nova York, cidade onde o grupo foi criado. Principal inventor da fórmula do punk rock, Johnny revelou que o fim do Ramones pode estar próximo. "Uma banda deve saber a hora certa de parar", disse. Os fãs brasileiros terão talvez sua última chance de ver a banda ao vivo em meados de maio, em São Paulo.
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Folha - Vocês chamaram vários convidados especiais para as gravações de "Acid Eaters". Como surgiu essa idéia?
Johnny Ramone - Nós queríamos chamar o maior número de pessoas possível, achamos que era uma boa idéia. Sebastian Bach é um cara legal, um fã do Ramones. Ele ficou sabendo que estávamos gravando o disco e pediu para cantar alguma coisa. O engraçado é que não consigo ouvir sua voz na canção. Ele está lá, mas é impossível ouvir sua voz. Pete Towshend estava em Nova York, envolvido com algo a ver com "Tommy". Quando soubemos disso, o convidamos para fazer os backing vocals de "Substitute".
Folha - Como as músicas do disco foram escolhidas?
Ramone - Eu, Marc e CJ estávamos ensaiando e tivemos a idéia do disco. As músicas foram escolhidas porque são algumas das nossas favoritas, ou então porque sentimos que eram boas canções que foram esquecidas. Também tentamos pegar algumas músicas que a maioria do público nunca esperava ouvir com o Ramones.
Folha - Como estão as turnês depois do disco?
Ramone - Acabamos de voltar de uma turnê de um mês pelo Japão e a Austrália. Semana que vem começamos outra pelos EUA, que deve durar cinco semanas, e depois devemos passar pela América do Sul, em meados de maio. Devemos tocar em São Paulo, Buenos Aires e no Chile. Nossas melhores platéias estão na América do Sul.
Folha - O que você acha dos "dinossauros", como Robert Plant e Paul McCartney?
Ramone - Acho que essa gente deve se aposentar. Se você é um jogador de futebol e fica velho, é inevitável que alguém venha e te tire do time. Isso simplesmente não acontece com o rock'n'roll, os fãs continuam a existir. Gosto de ver bandas que têm coragem de parar na hora certa. O The Who, por exemplo, continua se arrastando, os Stones também. Acho que eles não têm muito mais a dizer, mas esses grupos continuam tendo o privilégio de prosseguir. Acho que uma banda deve parar no momento certo.
Folha - E o Ramones? Você acha que há um momento certo para a banda acabar?
Ramone - Sim, acho que sim. Nós gravamos todos os shows, para comparar todas as turnês. Vemos as fitas em câmera lenta, avançamos, congelamos as imagens. Acho que continuamos a tocar bem, mas há um ponto em que você tem que parar. Quero ficar parado um ano depois desses shows para reavaliar o que faremos em 95. Estamos fazendo isso há 20 anos, mas não sei exatamente quando vamos parar.
Folha - E o que você vai fazer depois do fim do Ramones?
Ramone - Eu não quero mais fazer isso. Não quero tocar em nenhuma outra banda além do Ramones. Nada que eu possa fazer pode ser melhor que o Ramones. Quero apenas cair fora e relaxar o máximo possível. Espero me aposentar e não fazer simplesmente nada. Quero acordar e não precisar ir para o trabalho.

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