São Paulo, quinta-feira, 3 de março de 1994
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Gal desce do telhado em seu novo show

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Show: Gal Costa em "O Sorriso do Gato de Alice"
Direção geral: Gerald Thomas
Direção musical: Jacques Morelenbaum
Onde: Imperator (r. Dias da Cruz, 170, Méier, zona norte do Rio, tel. 592-7733)
Quando: Estréia hoje, às 21h30. A partir de amanhã e até 27 de março, às sextas e sábados, às 22h, e aos domingo, às 20
Quanto: mesas centrais e camarotes, CR$ 10 mil; mesas laterais, CR$ 8 mil; setor C, CR$ 6 mil

Quando Gal Costa surgir logo mais sobre o telhado que Gerald Thomas criou para ela no palco do Imperator (para lá de cima soltar a voz numa "overture" que alterna Wagner, Rolling Stones e Duke Ellington), estará dando início a um dos mais caros e ambiciosos shows de seus 25 anos de carreira. Quanto o caro significa em termos de dinheiro é quase um segredo de estado. Já a ambição, não: "É um show para ser lembrado".
A idéia do telhado é de Thomas, o diretor, cenógrafo e iluminador que Gal convidou para fazer dessa sua volta aos palcos algo realmente memorável. Embora tenha o mesmo título de seu último disco, "O Sorriso do Gato de Alice", não se trata de um show de lançamento. Das 32 canções que desfilarão pelo repertório mais do que eclético, apenas 8 são do disco. E o roteiro só muito de leve remete a ele. O telhado, por exemplo, não tem nada a ver com o gato da canção de Caetano.
"Estarei no topo e, ao mesmo tempo, solitária. Solitária, mas ao mesmo tempo compartilhando essa experiência com a platéia", explica Gal a idéia de entrar em cena de cima para baixo, pisando macio as telhas do insólito cenário.
Thomas não esconde as intenções teatrais de seu trabalho: "É uma conversa de Gal com Deus. É no palco e, mais exatamente em sua voz, que se localiza o drama, os conflitos do espetáculo". O telhado tem sua razão de ser, explica: "Quis colocá-la mais perto do céu. Ou, pelo menos, em posição de vantagem em relação à cidade".
Gal reconhece a teatralidade do projeto, mas prefere dizer que ele é, basicamente, um recital. Não vai cantar ária de "Tristão e Isolda", como chegou a ser dito, mas fará sua voz passear por canções as mais diversas: de um fado de Amália Rodrigues a um samba de Paulinho da Viola, de muita coisa de Caetano à volta à moda de Jorge Ben Jor, de "As Time Goes By" ao samba da Mangueira.
Durante o ensaio, o clima algo grave que cerca a véspera da estréia é quebrado pelo tom íntimo e fingidamente desrespeitoso com que Gal e Thomas se tratam. Um fustiga o outro: "Essa calça que ele veste já anda sozinha", diz ela. "Essa bocona é retocada", diz ele apontando para os lábios que ilustram a capa do último disco. Doze quilos mais magra, Gal se sente mais bonita e inexlicavelmente mais feliz.
"A principal intenção do espetáculo é a de fazer com que nada se sobreponha ao canto. Cantar é o fio principal da minha essência, de modo que o lado teatral do show não vai se opor ao do canto. Na verdade, se há um personagem no show, essa personagem é a minha voz."
Quando provocada sobre se há muita fumaça em cena (uma das marcas do estilo Thomas), Gal rebate: "Ora, todo show tem fumaça." Acha que, mais importante do que a fumaça, é prestar atenção à forma como Thomas usa a luz branca: "O comum, em teatro e em shows, é a utilização da luz colorida".

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