São Paulo, quinta-feira, 3 de março de 1994
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A voz do povo

"Vox populi, vox Dei". Este foi um dos conselhos dados a Carlos Magno, o rei dos francos, pelo clérigo Alcuíno, que o ajudou a construir um dos mais notáveis impérios que a Europa já conheceu, num período que resgatou o humanismo e valorizou a cultura e o conhecimento. De resto, Alcuíno disse, de modo elegante, o óbvio. É evidente que os governantes devem estar atentos ao que pensa a população.
Bem mais difícil é interpretar corretamente esse pensamento. A pesquisa Datafolha sobre como os paulistanos vêem o Plano FHC, publicada na edição de ontem desta Folha, apresenta resultados contraditórios e de certa forma surpreendentes. Em primeiro lugar, chama a atenção o grau de desinformação das pessoas. É quase inacreditável que, na maior cidade e principal centro econômico do país, 30% da população não tenha nem mesmo tomado conhecimento das medidas, algo que mexe com o bolso de todos, indistintamente.
Mais curioso ainda é o pensamento daqueles que tomaram conhecimento do plano. Destes, 51% consideram as medidas boas. Contudo, 73% acham que a inflação ou vai aumentar ou vai permanecer nos obscenos níveis atuais. E mais, 66% consideram que o plano vai prejudicá-los ou que não vai alterar sua situação. Ora, se a maioria pensa que as medidas não alterarão ou até piorarão sua situação e não vão acabar com a inflação –aliás, o único objetivo do plano–, por que então as qualificam como boas? Mistério insondável.
A conclusão é forçosa. Daqueles que se preocuparam em informar-se sobre o plano, a maioria não entendeu nada ou muito pouco. Considerando-se que o sucesso do pacote econômico depende em boa medida da adesão voluntária dos agentes, é evidente que a incompreensão não ajuda.
O governo terá, portanto, de empenhar-se muito mais para explicar à sociedade o que significa a URV, que, para a população, ainda permanece um grande enigma.

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