São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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Medidas ressuscitam idéias do Cruzado

EDNA DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

O plano de estabilização econômica anunciado no início da semana é "exatamente a versão original do Plano Cruzado" elaborada, em 1984, pelos economistas André Lara Resende e Pérsio Arida, atual presidente do BNDES, disse ontem o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore.
A proposta dos dois economistas foi publicada no final de 84, em inglês, pelo Institute of International Economics, dos Estados Unidos, e um ano depois traduzida para o livro "Inflação Zero" –uma coletânea de artigos encabeçada pelo texto de Arida e Lara Resende entitulado "Inflação inercial e reforma monetária: Brasil".
"Eles ressuscitaram o defunto", afirmou Pastore. No artigo, de 23 páginas, os economistas propõem uma reforma monetária baseada, inicialmente, na "introdução da moeda indexada". Na versão "Larida" do Cruzado, que acabou sendo modificada na implantação do plano em 1985, as siglas usadas são: ORTN (em lugar de URV, no período de transição), NC (o novo cruzeiro equivalente ao Real) e o cruzeiro (o atual cruzeiro real).
As semelhanças entre as duas propostas se estendem pelo texto completo dos dois economistas. Pela tese de Arida e Lara Resende, "a livre conversibilidade de cruzeiros para NC é essencial para evitar um aumento na velocidade de circulação dos cruzeiros".
Ainda no período de transição, exatamente como sugere o Plano FHC, NCs, ainda na fase de ORTNs, "circulariam lado a lado" com uma paridade do NC com a ORTN e o dólar. "A circulação em paralelo da nova moeda confere-lhe credibilidade", defedem os dois economistas, para quem o período de transição para a nova moeda não poderia ultrapassar dois meses.
Pastore afirmou que a partir da terceira fase, que seria a efetivação do real, as idéias da equipe mudaram "um pouco" em relação ao artigo. Pela proposta "Larida", decorrida a transição, todos os contratos e a taxa de câmbio estão denominados em NC (real). "A economia que emerge da reforma monetária é, pois, não-indexada".
Para ex-presidente do BC, para o sucesso do plano econômico, a equipe do ministro da Fazenda teria que adotar algumas características do plano de estabilização argentina. Os pontos principais, segundo ele, são a conversibilidade, alongamento do prazo de fixação da taxa de câmbio e o fim da atuação do Banco Central nas operações do mercado aberto.

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