São Paulo, sexta-feira, 4 de março de 1994
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Portugal investe esperanças na 'Expo 98'

DANIEL PIZA
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Em 1998 Lisboa será sede da "Expo' 98", a última Feira Mundial do século e do milênio (veja logomarca ao lado). Para a maioria dos portugueses, essa sim será a grande chance de Portugal ocupar uma posição menos secundária no cenário europeu. A princípio, o tema da "Expo' 98" é "Oceanos, Patrimônio para o Futuro". Deverá ser confirmado em julho, assim que for aprovada por assembléia da ONU uma recomendação recente da Unesco para que 1998 seja considerado o Ano Internacional dos Oceanos.
Se tudo der certo, o motivo-chave dos eventos será Ulisses, o protagonista da Odisséia, e por tabela Portugal investirá, naturalmente, na Era dos Descobrimentos tão lembrada nos discursos em "Lisboa 94" (cuja logomarca, aliás, indica que Portugal é "o encontro do Atlântico com a Europa"). Um dos eventos que estão sendo preparados pela "Expo' 98" é a estréia de uma ópera do compositor americano Philip Glass, "O Corvo Branco".
Além disso, o tema Descobrimentos estará presente em algumas oportunidades no correr de 1994, e não só porque Lisboa é capital européia da cultura. Lisboa este ano é também "capital ibero-americana da cultura". É a primeira vez que esse evento, decorrente de resolução da UCCI (União das Cidades Capitais Ibero-americanas), acontece do outro lado do Atlântico.
Excetuando espanhóis, os dois maiores fluxos turísticos para Portugal são de ingleses, alemães e americanos, respectivamente. Se descontados do total de espanhóis os que são visitantes e não turistas (isto é, que vão e voltam no mesmo dia), ingleses e alemães passam a primeiros e segundos. O motivo é óbvio. Europeus setentrionais buscam em Portugal, sobretudo na região do Algarve (sul), o clima e a natureza que não têm em seus países. Essas informações, dadas pelo ICEP (Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal), a Embratur portuguesa, explicam muito do comportamento deste início de "Lisboa 94".
Em suma, os portugueses estão se esmerando na retórica de Portugal como país europeu, "o mais antigo país da Europa" segundo o secretário da Cultura Solano Lopez, porque têm interesse essencial no turismo –em especial o da CE. Turismo é cultura? Não, cultura é turismo, parecem dizer.
Outra leitura dessa confluência de eventos e discursos em Lisboa é sua ambição de igualar o apelo turístico-cultural de Portugal ao da Espanha. Não à toa o fim-de-semana passado recebeu a alcunha de "movida lisboeta", à semelhança da "movida madrilenha" tão falada. No troca-troca do bloco econômico europeu, a Península Ibérica quer vender turismo. Ou seja, quer ser descoberta em vez de descobrir.

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