São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Ética

Em suas colunas, Gilberto Dimenstein, diretor da Sucursal de Brasília desta Folha, trouxe a debate a questão da ética entre os médicos. O assunto mexe com o "esprit de corps" de uma importante categoria e desperta paixões. Merece, portanto, reflexão mais detida.
A ética é sem dúvida um dos temas filosóficos que mais páginas consumiram ao longo dos séculos. Numa versão extremamente simplificada, pode-se dizer que todo o problema reside no fato de o homem ter a tendência de buscar o seu bem supremo, o "summum bonum". Essa tendência costuma levar os indivíduos a opor-se, pois, muito frequentemente, o interesse de um contraria o de outro.
Assim, para tornar viável a vida em sociedade –que é bem mais eficiente que a de indivíduos isolados em florestas ou desertos– criaram-se certos mecanismos para regular o comportamento das pessoas. O primeiro deles é a ética ou moral, ou seja, o conjunto de regras de conduta consideradas válidas por determinada sociedade em determinado período. Mas, como a sanção social imposta a quem não segue o código de conduta, não é suficiente para coibir aqueles mais afoitos, há também a sanção imposta pelo Estado a quem infrinja a lei.
Dessa forma, cobrar ética aos médicos, ou seja, pedir que ajam de acordo com os valores aceitos atualmente pela sociedade –entre eles os velhos "não matarás" e "não roubarás"– , é o dever de todos e de cada membro da comunidade. E mais, cobrar ética a médicos –bem como a qualquer outra categoria– é apenas atuar no sentido de manter possível a vida em sociedade.
Neste momento em que –não sem motivos– o anátema nacional parece ter recaído sobre os políticos, é importante que a sociedade perceba que o respeito à ética e a sua cobrança são imperativos universais. Servem para todas as categorias e todos os cidadãos, médicos, jornalistas, políticos, advogados, operários e desempregados. Ou então é melhor que cada um comece a construir uma casamata no meio da floresta amazônica.

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