São Paulo, sábado, 5 de março de 1994
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Quaresma e conversão

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

"Convertei-vos e fazei penitência."

Jesus Cristo, ao iniciar sua pregação, lançou a todos este apelo. Veio para libertar-nos do pecado e abrir-nos ao amor verdadeiro. Auxilia-nos a sair do egoísmo, da cobiça dos bens e da sede desenfreada de prazer e poder. Apresenta-nos um horizonte de vida eterna e feliz na comunhão plena com Deus e entre nós.
O tempo da Quaresma ajuda-nos a fazer um exame de consciência, a perceber as faltas de nossa conduta, a corrigir erros e defeitos. Ensina-nos a ajustar sempre mais nosso procedimento aos valores que respondem à dignidade do projeto criativo de Deus e à vida nova que Jesus Cristo nos anuncia.
A Campanha da Fraternidade nasceu como expressão do desejo de conversão profunda, não só no plano pessoal, mas ainda no testemunho de vida cristã no seio da sociedade. Compreendemos, assim, a escolha do tema "Fraternidade e Família", que convoca a todos para redescobrir os valores da convivência familiar, crescendo na compreensão, afeto e dedicação ao próprio lar. A campanha vai mais longe. Recorda a importância da preparação ao casamento, o dever de auxiliar os que não têm condições dignas para manter a própria família e os que, por se encontrarem isolados, mais necessitam da fraternidade dos filhos de Deus.
Os dias de preparação à Páscoa são, no entanto, tempo em que cada cristão procura aplicar a si mesmo as palavras de Jesus: "Convertei-vos". Há uma dimensão pessoal que não pode faltar à conversão. A vida cristã é um caminho de aperfeiçoamento constante. Em que podemos melhorar? Sabemos que algumas inclinações, facilmente, tornam-se desregradas. Isto requer o esforço pessoal, aliado à graça divina, para procedermos corretamente no cumprimento dos ditames da consciência, iluminados pelos mandamentos de Deus.
Lembro três aspectos para nossa reflexão.
Em Ouro Preto, há poucas semanas, foi feita uma pesquisa sobre o que mais prejudica a harmonia do lar. Apareceu, em primeiro lugar, o uso imoderado de bebidas alcoólicas. A saúde é lesada. A pessoa se descontrola. Torna-se violenta e causa enorme tristeza aos familiares. É preciso reeducar-se para a moderação e sobriedade. Haverá paz e alegria.
Outro ponto é a difusão dos tóxicos. Em pouco tempo, destrói-se a vida psíquica de quem depende de drogas. Grande parte dos crimes está associada ao tráfico e uso dos tóxicos. É tempo de conversão.
O terceiro aspecto é o do desmando moral no relacionamento sexual. Perde-se a noção da beleza da vida sexual criada por Deus. Ela é sinal de doação recíproca e total, de comunhão profunda entre o homem e a mulher, fonte de comunicação de nova vida. No entanto, exacerba-se a busca descontrolada do mero prazer, sem freios. O relacionamento sexual torna-se frustrante, vazio de sentido espiritual. Aumenta a violência do estupro, o comércio e exploração da pessoa. O combate a Aids, à luz dos princípios éticos, deveria evitar o contágio, sem, no entanto, difundir a mensagem subreptícia e falsa de que no uso do sexo tudo é permitido.
Cada um de nós há de procurar examinar a consciência e, com a graça de Deus, converter o próprio coração.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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