São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Evangélicos preparam vestibulandos em SP

SERGIO SÁ LEITÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um cursinho diferente abre as portas em São Paulo no mês que vem. Como o Objetivo ou o Universitário, ele também pretende adestrar os alunos segundo as cartilhas dos vestibulares. Mas o Gospel apresenta duas novidades: um rígido código de conduta e uma inegável inspiração religiosa. No caso, evangélica e pentecostal –seus fundadores militam na Renascer e na Assembléia de Deus.
"Ninguém vai fumar, usar drogas nem consumir bebidas no espaço do cursinho", explica a pedagoga Lílian de Oliveira Souza, 27, coordenadora do Gospel e frequentadora dos cultos da Renascer. Não serão admitidos palavrões, piadas indecorosas e ousadias afetivas. "Os pais ficarão tranquilos, pois os filhos serão educados num ambiente saudável", diz.
O Gospel terá uma rotina semelhante à da concorrência. Com apenas um tempero a mais: antes das aulas, professores e alunos participarão de um culto religioso, com direito a orações e leituras da Bíblia, para "agradecer a Deus por mais um dia e pedir sua ajuda no aprendizado". A presença, porém, não será obrigatória. "Não vamos coagir ninguém", afirma Lílian.
Ela rejeita o rótulo de "cursinho evangélico". "Queremos alunos de qualquer religião", assegura. "Oração não é agressão e o conteúdo das cadeiras não será apresentado com um enfoque religioso". Mas o corpo docente terá "prioritariamente" evangélicos e a direção do Gospel espera uma maioria de fiéis entre os alunos.
O ensino será essencialmente pragmático. Entre Darwin e a religião, garante Lílian, o Gospel ficará com o primeiro. "O curso tem o objetivo de ajudar o estudante a passar nos exames", explica. "Por isso, vamos ensinar o que as provas pedem". Serão ministradas aulas de "coerência científica" –e não de "visão divina".
Paira, no entanto, a suspeita de que este "pragmatismo" tenha um propósito também pragmático, embora paradoxal –o de facilitar a cooptação de jovens para a Renascer e a Assembléia de Deus. "Como oportunidade educacional, a idéia parece ótima", afirma o professor Celso Arruda, da Unicamp, um especialista no assunto. "Mas faço restrições a qualquer vinculação de caráter religioso".
Estudantes também reagem à inspiração do Gospel. "O lance de estudar num curso saudável é bacana", diz Patrícia Almeida, 17. "Mas não quero me vincular a uma seita religiosa". "Mesmo que eles não ensinem religião, podem querer atrair os que não são da igreja e encher o saco", emenda Carla Monteiro, 18.

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