São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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"Trabalho pelo trabalho" ainda é considerado idealismo no Brasil

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Se nos Estados Unidos um currículo que mencione trabalho voluntário conta pontos a favor do candidato, no Brasil o "trabalho pelo trabalho" não é tão difundido nem tão valorizado. As pessoas que se dedicam ao voluntariado muitas vezes acabam tratadas como idealistas e diletantes, especialmente as que estão em idade ativa. A indicação dessa atividade num currículo, portanto, pode até despertar curiosidade –mas não garante nenhuma vantagem especial na busca por uma vaga.
Em grandes corporações norte-americanas não é difícil encontrar um diretor que atende pessoas carentes ou que vende bichos de pelúcia para ajudar uma creche. "O trabalho voluntário é estimulado e quase obrigatório nos Estados Unidos, principalmente para os altos escalões das empresas", afirma Guilherme Velloso, 49, diretor da PMC-Amrop International.
"A ação comunitária não está ainda incorporada à nossa cultura", avalia Simon Franco, consultor em RH. "No íntimo, os brasileiros consideram os voluntários como uns poetas que deveriam fazer algo mais rentável", ironiza.
Remando contra essa lógica, 303 pessoas têm suas agendas marcadas com 500 crianças carentes de zero a sete anos da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo.
"Acreditamos que a responsabilidade por essas crianças não pertence só ao Estado e que temos de tomar também as iniciativas", afirma a pedagoga Sybele Braga, 48, presidente do Mais (Movimento de Ação Integrada de Assistência), a associação dos voluntários que atuam na Febem.
É esse tipo de consciência que há quatro anos estimula Sérgio Luiz Evangelista, 35, gerente financeiro da Amorim S/A Aços Inoxidáveis, a iniciar, às 8h00 de todo sábado, seu trabalho de recreação com um grupo de crianças da Febem. Ou que leva a representante comercial Maria Terezinha Telles Ferreira, 47, a esquecer suas vendas nas segundas e terças-feiras entre as 14h00 e 17h00. Nesses períodos, ela se torna auxiliar das professoras de duas turmas de alunos da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).
Só em São Paulo, a Apae têm 145 voluntários fixos, sem contar os que atuam só na Feira da Bondade. Eles trabalham nas salas de aula, administração, ambulatório, brinquedoteca e comparecem, no mínimo, duas vezes por semana. Assinam um livro de ponto e suas faltas têm que ser justificadas. "O fato de ser uma atividade espontânea não diminui as responsabilidades", afirma Maria Cristina Pastore, 54, presidente do corpo de voluntários da Apae.(DCM)

ONDE SE INFORMAR:
Apae: mantém curso e estágio de dois meses para novos voluntários. Informações: (011) 549-4722, r. 274. Mais/Febem: os voluntários devem passar por cursos nas áreas de recreação (trabalho aos sábados) ou de estimulação (trabalho durante a semana). Informações: (011) 263-8067.

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