São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Novela e série independentes são vizinhas em dificuldades

Thiré dirige em Búzios; Daniel grava 'Confissões'

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Na Globo é fácil. Basta preencher uma requisição e no dia seguinte está tudo pronto para a gravação –figurinos, cenários, maquiagem, equipamento, atores. Mas em uma produção independente, cada cena rodada é uma batalha vencida.
É isto que alguns ex-globais estão aprendendo com a novela "74.5 - Uma Onda no Ar" e a série "Confissões de Adolescente", que duas produtoras independentes gravam no Rio –para exibição, respectivamente, na Manchete e na Cultura (leia à pág. 10 a ficha técnica das produções).
Por produção independente, entenda-se a realização de um produto por uma pequena produtora –bancada ou não por uma emissora de TV. Neste tipo de produção, os recursos de uma grande emissora são substituídos pelo que a produtora captar, a partir de um orçamento sempre apertado. Resultado: tudo pode acontecer. Ou melhor, faltar.
Um defeito no ar condicionado dos estúdios alugados para "Confissões", por exemplo, atrasou em quinze dias as cenas de interior –não havia como pular para o estúdio ao lado. Em "74.5" –orçamento de US$ 3 milhões –, as dificuldades começam na acomodação dos atores nos disputados hotéis de Búzios, RJ, locação da trama.
Daniel Filho, diretor de "Confissões...", baseada em peça de Maria Mariana (leia texto à pág. 10), compara a empreitada a "implantar uma base espacial na Argélia". A produtora Dez (nome formado pelas iniciais de Daniel, Euclydes Marinho e Zelito Viana) recebeu da Cultura US$ 500 para gravar 23 episódios. "Estamos tentando arranjar mais US$ 200 mil", diz Viana, o produtor.
As dificuldades em cumprir o orçamento passam, no caso da série, pela decisão de rodar o seriado em 16mm. "Estamos fazendo cinema em ritmo de TV", define Daniel, que comanda uma equipe de 40 pessoas.
Com tudo isto, o co-diretor e supervisor de texto Marinho, que trabalhou 15 anos na Globo, está otimista: "O que compensa é a liberdade e a participação maior nos lucros", diz.
Para Cecil Thiré, diretor de "74.5...", novela que a TV Plus produz e a Manchete exibe a partir deste mês, o trabalho assemelha-se a "fazer um filme do Cinema Novo". Thiré roda as cenas da novela com duas câmeras Betacam –e sem mesa de corte. "Depois, tenho que montar os takes como se estivesse fazendo um filme", resigna-se.
"Se essa novela se realizar, já será uma grande vitória, independente da qualidade", diz Thiré –que dirigiu "Sassaricando" e "Araponga" na Globo. Para ele, o grande feito destas produções será oferecer um novo ponto de vista ao telespectador. "A programação das grandes emissoras reflete sua linha de pensamento. Os independentes têm uma postura diferente".
As duas produções são vizinhas nas dificuldades: alugaram estúdios próximos. A TV Plus encomendou os cenários a três firmas diferentes, já que uma só não daria conta do serviço. Na Globo, onde uma cidade cenográfica maior que municípios de verdade é erguida só para a novela das oito, cenários são construídos em uma noite.
"Se precisarmos de um vaso sanitário, vamos ter que sair à cata. Na Globo, eles têm dezenas no depósito", brinca Daniel.

LEIA MAIS
Sobre produções independentes à pág. 10

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