São Paulo, segunda-feira, 7 de março de 1994
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"Terra Estrangeira" retrata era Collor

DA REPORTAGEM LOCAL

A era Collor começa a ganhar seu primeiro balanço em cinema. Quase simultaneamente às eleições de outubro próximo, estará pronto o longa-metragem "Terra Estrangeira", dirigido por Walter Salles Jr. e Daniela Thomas. O tema central é a tempestade íntima provocada num jovem candidato a ator (Fernando Alves Pinto) pelo terremoto social do Plano Collor, em 1990.
O "naufrágio pessoal" do protagonista vai levá-lo a seguir os 800 mil brasileiros que deixaram o Brasil de Fernando Collor. Ele vai tentar a vida em Portugal e fechar um ciclo familiar ao voltar à Espanha natal de sua mãe (Laura Cardoso). "É uma história de aventura e ação", resume sorrindo Daniela, em sua primeira experiência profissional na direção cinematográfica.
Prazer
Dois dias antes do prazo, foram encerradas na madrugada da última quinta-feira, no aeroporto de Cumbica em São Paulo, as filmagens brasileiras de "Terra Estrangeira". Foram doze dias rodando num apartamento ao lado do Minhocão, num estúdio que o reproduzia, nas ruas de São Paulo e no aeroporto internacional. "Tive uma experiência que não conhecia: filmar ficção com prazer, muito prazer mesmo", disse à Folha Salles Jr., que espera manter o clima em abril, ao rodar em Portugal (Lisboa e Alentejo), os dois terços que faltam.
Para o diretor de "A Grande Arte", os contrastes não poderiam ser maiores. "Terra Estrangeira" está orçado em US$ 420 mil dólares (cerca de um décimo do orçamento de seu primeiro filme). O protagonista não é um astro internacional como Peter Coyote, mas um estreante descoberto nos EUA por Daniela, Fernando Alves Pinto. O story-board rigoroso cedeu espaço à mais estimulante improvisação. O diretor de fotografia Walter Carvalho empunha uma câmera Super-16mm (o filme será ampliado na França para 35mm). "Terra Estrangeira" é também rodado em preto-e-branco, tanto por razões econômicas quanto estéticas. "A história pedia a urgência do preto-e-branco, do plano não muito preparado", explica Salles Jr.
Modelos
"Está sendo pra nós muito prazeroso rodar com este custo, mas eu ainda prefiro 'Apocalipse Now' a 'El Mariachi', diz o cineasta. Salles Jr. evita contudo ditar regra: "Não há um modelo. 'A Grande Arte' foi um modelo possível em 1989, na véspera do Plano Collor. Se tivesse que recomeçar 'A Grande Arte', faria de novo em inglês. Aquele tipo de história pede um orçamento dilatado. O modelo de agora não tem muito a ver com o de 'A Grande Arte' mas tem com o de toda nossa produção de documentários. A questão aqui é a de adequar os meios à história que você quer contar."
A produção de "Terra Estrangeira" está sendo viabilizada por uma série de aportes que envolvem, entre outros, o brasileiro Paulo Brito, o francês Jean-Pierre Catton e a produtora portuguesa Animatógrafo. O roteiro foi desenvolvido pela dupla de diretores a partir de um argumento original de Salles Jr. Os diálogos foram escritor por Millôr Fernandes e retrabalhados pelos diretores a partir das três semanas de ensaios que precederam as locações paulistas. No elenco estão ainda Fernanda Torres, Luis Melo, Alexandre Borges ("Ham-Let"), atores dos grupos portugueses "A Barraca" e "'Cornucópio" e participações especiais que unem de Gerald Thomas a Tcheky Kario.

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