São Paulo, quarta-feira, 9 de março de 1994
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Candidato vê risco de golpe

PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO

O virtual candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse em entrevista a 45 correspondentes estrangeiros no Rio que na América Latina sempre há risco de golpe militar e que a sociedade precisa trabalhar contra isso: "Minha tese é que militar não é solução para nada, é problema."
Depois da coletiva, James Brooke, correspondente do "The New York Times", classificou Lula como um "candidato forte, que se defende bem, sem precisar de assessores". Brooke disse que faz reportagens com Lula desde 80 e que ele "evoluiu muito". Para John Blount, do "The Washington Post", Lula "tentou adaptar o discurso ao público". A crítica mais dura foi de Isabel Vincent, do "The Globe and Mail", do Canadá. Disse que Lula dava as mesmas respostas a perguntas diferentes. Leia os principais trechos:
"The New York Times" – Em entrevista, o sr. disse que há hostilidade da grande imprensa contra sua candidatura. Como o sr. pretende lidar com isso?
Lula – Não queremos que a imprensa seja favorável ou aliada. Queremos que seja imparcial, que mostre os fatos sem sua visão ideológica. No editorial, tudo bem. Mas nos fatos tem a obrigação de ser imparcial.
"The Washington Post" – Os sindicalistas defendem salários com correção próxima ao dólar há tempos. Agora eles são mais ou menos em dólar. Quais suas objeções ao plano?
Lula – Um salário mínimo de US$ 65 pode ser indexado a qualquer moeda mas continuará não valendo nada. Somos favoráveis à estabilização, mas os trabalhadores não podem pagar por um crime que não cometeram. O prejuízo poderia ser jogado para o sistema financeiro e para os oligopólios.
BBC – Como o sr. vai fiscalizar a aplicação do dinheiro dos impostos e qual posição sobre o número deles?
Lula – Somos a favor de uma grande reforma tributária. Pode até diminuir o número de impostos, mas é preciso acabar com a sonegação. Para cada dólar arrecadado, um é sonegado. O problema é gastar corretamente o pouco que tem. Mas não pode haver sonegação. O Imposto Territorial Rural arrecada apenas US$ 52 milhões enquanto o IPI da venda de cigarros sozinho chega a US$ 1,5 bilhão.
"Die Tageszeitung" – O partido socialista alemão quando chegou ao poder rachou entre os que queriam salvar o capitalismo e amenizá-lo e os que queriam derrubá-lo. Pode acontecer o mesmo com o PT?
Lula – Temos que separar o que é projeto estratégico, utopia, e programa de governo. O PT não vai sair rachado porque tem bom senso. Quem tinha que sair do partido já saiu. Acho que agora vai entrar mais gente. Quem gosta de democracia e briga vai encontrar no PT o paraíso.
"Daily Express" – O ministro do Tesouro britânico está no Brasil e diz que há dinheiro para ser aplicado no país, para ajudar na privatização. Seu governo não aceitaria?
Lula – Dinheiro aceitamos à vontade. Sem preconceito. O PT votou a favor da participação do capital estrangeiro na privatização.
Deutsche Presse Agentur – No esboço do programa do PT há a proposta para aumento do orçamento dos militares. Qual é a sua confiança na vocação democrática dos militares?
Lula – Em nenhum momento fez parte do programa a quadruplicação do orçamento das Forças Armadas. Se eu fosse quadruplicar alguma coisa seria a alimentação, saúde e educução. O que há no programa é a modernização das Forças Armadas. Não temos nenhuma preocupação com os militares hoje. Mas em qualquer país da América Latina sempre há algum risco. Temos que trabalhar a sociedade civil contra isso.

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