São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 1994
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Estilo mordaz da "Spy" chega ao fim

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Jack Nicholson estampa a capa da última edição da revista "Spy", que encerra agora em março uma trajetória de sucesso e controvérsia. Lançada em 1986, "Spy" explodiu no auge da euforia yuppie e entrou em decadência na virada da década. A edição que está nas bancas não traz qualquer nota de despedida porque foi concluída antes da decisão final.
Segundo a editora-adjunta da "Spy", Joanne Gruber, a decisão foi baseada puramente em razões financeiras. A revista dava prejuízo há mais de três anos, apesar de ter alcançado sua maior circulação paga, cerca de 200 mil exemplares, dez vezes a tiragem de "Spy" em 1986. Os proprietários não revelam o tamanho do rombo financeiro, mas a situação é comum no mercado de publicação de revistas nos EUA. "A diferença é que não temos uma corporação para absorver os prejuízos", diz Joanne.
É evidente , no entanto, que "Spy" estava agonizante e já havia perdido quase toda a influência que exerceu até 1990. "Aconteceu com a 'Spy' o mesmo que acontece com restaurantes: as pessoas descobrem outro lugar mais quente, mais na moda, e se mudam para lá", analisa Joanne, a única jornalista a acompanhar "Spy" durante todos os seus sete anos e meio. Ela é literalmente quem vai apagar a luz ao sair. O fundador da revista, o canadense Graydon Carter, tornou-se há nove meses o editor-chefe da "Vanity Fair". "Ele era o espírito da 'Spy'. Quando ele saiu, ficou claro que o fim estava próximo", diz Joanne.
No terço final dos anos 80, a "Spy", com seu estilo implacável e suas fofocas demolidoras, era o guia do jet-set de Manhattan. Os assuntos contidos nas páginas da revista eram assunto obrigatório em qualquer festa. Os adjetivos –geralmente pejorativos– que os redatores da revista agregavam aos nomes das pessoas passavam a ser inseparáveis.
Até o endereço da "Spy" tinha estilo. A redação ficava no SoHo, o bairro das galerias de arte, das lojas exclusivas, da moda. A revista se pautava pelo desprezo aos novos-ricos e pelos maus-tratos aos ricos e famosos em geral. Tinha preferência por alguns alvos óbvios, como o triângulo Donald Trump-Ivana-Marla Maples. Mas a metralhadora giratória só poupava uns poucos –amigos dos editores, segundo as más línguas.
No fim de 1990, no entanto, "Spy" já estava descendo a ladeira. Em reportagem de dezembro daquele ano, "The New Republic" sustentava que os leitores estavam ficando cansados do humor mordaz de "Spy" e tendiam a se desinteressar. Pouco mais de três anos depois, a profecia sobre o fim da revista está concretizada.

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