São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 1994
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Chico Buarque quer escrever novo livro

DA REPORTAGEM LOCAL

Após a temporada do show "Paratodos", Chico Buarque planeja escrever um novo livro. Leia a seguir o restante da entrevista com o compositor, que também analisou a onda dos grupos de pagode. (Carlos Calado)
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Folha - Corre por aí que após a temporada desse show você começa um novo romance...
Chico - Eu gostaria, mas é mais "wishful thinking" do que outra coisa. Eu gostaria de escrever um livro novo, talvez um romance, mas ainda não tenho um projeto.
Folha - Você não tem compromisso assumido com a sua editora, a Companhia das Letras?
Chico - Eu prometi ao Luiz Schwarcz me dedicar a isso e gostaria mesmo. Mas eu não sei me planejar assim com tanta exatidão. Eu preciso fechar uma porta para abrir a outra. Para escrever o livro, preciso parar de fazer o show.
Folha - Já tem alguma idéia?
Chico - Não. O que normalmente acontece comigo é um buraco entre um trabalho e outro. Tenho necessidade de ficar vazio de uma coisa para começar outra.
Folha - O que você acha desses novos grupos de pagode? Eles seriam os Leandros e Leonardos do samba?
Chico - Eles fazem um samba mais produzido, em todos os sentidos. É resultado de um trabalho de gravadora, é produzido visualmente. Mas eu não tenho nenhuma antipatia por esse tipo de samba.
Folha - A diluição do samba não te incomoda?
Chico - Acho que a música popular, o samba e mesmo a música sertaneja estão sujeitas à diluição, estão sendo diluídos o tempo todo. Eu não vou comparar esses grupos a João Gilberto ou ao Paulinho da Viola. O problema é que a diluição da diluição da diluição acaba numa coisa muito rala. E cansativa também. As pessoas sempre perguntam por que a minha geração continua. Eu acho que naquela época não havia essa velocidade toda na substituição de um produto por outro. Não havia nem mesmo a noção de música como produto. Era um trabalho bastante amador. Não existia essa visão de mercado que existe hoje.
Folha - E o "Samba da Barata"? Você gosta?
Chico - Eu acho muito engraçado (risos). Visivelmente, ele tem muito mais humor do que a canção sertaneja. Além disso, a canção sertaneja sofreu um desgaste ainda maior por causa do uso político que fizeram dela, que acabou gerando uma antipatia muito grande. Mas até que eu não achava muito ruim quando um deles começava a cantar "Rancho Fundo" e o outro já emendava uma terça no vocal. Em princípio, eu não acho nada muito ruim em música. A coisa ruim vem em torno dela.
Folha - URV e calcinha dão samba?
Chico - Essa me pegou no contrapé. São assuntos que aconteceram enquanto eu estava fora do Brasil. Na verdade, eu nem cheguei a ver direito as famosas fotos da moça sem calcinha. Eu estava de férias, em Paris, e me mandaram um fax, mas a foto ficou borrada. Eu nem sei como era a moça na intimidade (risos). Quanto à URV, eu ainda estou tentando entender. Assisti à entrevista do Fernando Henrique no programa do Jô Soares e confesso que ainda não consegui entender direito nem a diferença entre esse plano e a dolarização, nem a questão da perda salarial. Eu ainda estou em descompasso com as pessoas mais bem informadas, porque eu tirei essas férias. Mas foram merecidas.

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