São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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País pobre só mede desemprego da elite

CLAUDINÊ GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE GENEBRA

O desemprego que pode ser medido é um fenômeno dos países ricos, onde há proteção social ao trabalhador e seguro-desemprego para continuar a viver com dignidade. "Nos países pobres, geralmente só há desemprego da elite", explica o norueguês Eivind Hoffmann, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, Suíça.
Ele avisa que é preciso ter cuidado com os números porque "é impossível comparar as estatísticas de um país com as de outro, devido à diversidade da situação econômica e social". Outro fator que dificulta a comparação é que as metodologias aplicadas na coleta dos dados divergem.
"O cidadão que não pode contar com o Estado e tem que se virar para sobreviver não consta em nenhum levantamento sobre desemprego", afirma a costarriquenha Adriana Mata, outra especialista da OIT. No entanto, isso não quer dizer que seja melhor viver na Bolívia (5,7% de desemprego) que no Canadá (11,3%).
Também existe um fator cultural que influencia os dados. Em certos países, inclusive latino-americanos, muita gente tem vergonha de se declarar desempregada. A OIT não tem dados sobre subemprego e aguarda financiamento para seu primeiro programa nessa área.
Os dados relativos à América Latina são tidos como mais confiáveis, por exemplo, do que os dos países da Europa Oriental e da CEI (Comunidade de Estados Independentes), onde existia o que Hoffmann define como "ficcão" em matéria de desemprego.
"As empresas estatais faziam relatórios tidos como verdadeiros pelos órgãos centrais", afirma. "Os métodos ocidentais eram desconhecidos e nem pesquisas de opinião eram capazes de fazer."
Entre os países "mais comparáveis" da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne 24 países desenvolvidos), o desemprego tende a se estabilizar, mas é preocupante por razões estruturais. Mesmo com a retomada do crescimento econômico, o desemprego deve continuar alto devido às reestruturações realizadas no setor industrial.

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