São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Quem faz o jogo da especulação

LUÍS NASSIF

Há uma enorme confusão nessa história de conversão de preços para a URV, que ainda pode prejudicar inutilmente este plano.
É um contra-senso supor que faz parte da lógica do plano permitir a especulação com preços –a menos que se admitisse que o ministro e sua equipe tenham vocação suicida. E é bobagem maior imaginar que esquemas tradicionais de controle de preços –como congelamento e prisões–, que não deram certo em momentos políticos e administrativos mais favoráveis, vão dar certo agora.
A lógica do plano não inclui o fator susto ou intimidação. Mesmo assim, é muito mais eficiente para caçar especuladores do que essas rompâncias de políticos que querem pavimentar sua candidatura às próximas eleições.
Num ambiente de inflação elevada, desde que estabilizada, ocorre um equilíbrio entre preços e salários e oferta e demanda.
Hoje em dia, há um mercado relativamente recessivo, que tem obrigado a uma dura competição entre as empresas. Este mercado tornou-se muito mais competitivo com o início de desregulamentação e abertura da economia.
Choques especulativos
Movimentos especulativos só tendem a ocorrer quando há alguma espécie de choque na economia, que altera o equilíbrio dos fatores econômicos. Por exemplo:
1) Choque de demanda.
Esse choque pode ocorrer com aumentos bruscos de salários (como no início do Cruzado), ou corrida às compras por medo que faltem produtos, ou cesse o congelamento (como no fim do Cruzado).
2) Choque agrícola.
Uma quebra expressiva de safras, no Brasil ou no mercado internacional, provocando elevação de preços de produtos com grande peso nos índices.
3) Choque cambial.
Uma maxidesvalorização da moeda, ou a elevação do imposto de importação sobre produtos expressivos.
4) Expectativas de congelamento.
O empresário vai considerar melhor aumentar preços, mesmo perdendo mercado, do que ficar amarrado depois.
A lógica do plano é reduzir ao mínimo as turbulências iniciais, com a troca de moeda, justamente para não dar espaço a esses movimentos especulativos –que só prosperam em ambientes de ansiedade exacerbada.
Sem álibi, a empresa estoca para especular e joga os preços no espaço. Esse estoque custa dinheiro. Se pegou emprestado, paga juros a cada dia de encalhe. Se aplicou suas reservas, deixa de ganhar a cada dia o que poderia estar aplicando no mercado financeiro.
Com o preço alto, o consumidor recua, reduzindo a velocidade do giro dos estoques. Ao mesmo tempo, o Banco Central aumenta as taxas de juros, encarecendo mais a manutenção desse estoque. De quebra, com o dólar estacionado e com o comércio exterior aberto, qualquer demora em baixar preços fará com que o comércio rapidamente se organize para importar os produtos que estão caros.
Em setores mais oligopolizados dá-se uma mão ao mercado reduzindo alíquotas de importação de produtos ou –em última instância– aplicando os rigores da lei sobre os faltosos.
Índice de preços
Esta é uma lógica férrea, que não impede alguma especulação inicial, até que o mercado se acalme e aceite a nova moeda. A engenhosidade do plano é que esta turbulência inicial se dará em grande parte na fase em que a URV é um índice de preços, captando toda inflação gerada por esta ansiedade inicial e repassando para os salários. Quanto menor a ansiedade geral, mais rapidamente cessam esses movimentos especulativos.
Os levantamentos de preços do Procon, na última semana, já registraram uma redução no ritmo de elevação de preços básicos, confirmando a lógica do plano. O que pode provocar um novo surto especulativo é a insistência de alguns políticos em transformar a questão econômica num palanque para as próximas eleições.
Mais à frente, quando esta ansiedade se reduzir, troca-se a URV pelo real.
Unicamp e Fundap
O Tribunal de Contas do Estado decidiu investigar a operação de transferência de US$ 1,3 milhão da Fundap para a Fecamp –instituição de direito privado, de propriedade de professores do Instituto de Economia da Unicamp.

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