São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Denúncia fantasma

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Há tempos não via uma "denúncia" tão estranha –aliás, parece comédia. O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Antônio Carlos Amorin, deu ares de revelação bombástica à informação de que um partido receberia dinheiro da Itália –ontem, em Roma, ele disse que o dinheiro entrou clandestinamente.
A "denúncia" caiu como uma bomba no Congresso. O procurador-geral da República, Aristides Junqueira, ameaçou cassar o registro do partido. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Sepúlveda Pertence, mostrou-se preocupado, anunciando providências imediatas. Era ontem um dos assuntos principais de Brasília.
Parece até comédia por causa de um detalhe: ninguém sabe qual é o partido. Mas completar o clima de chanchada, Luiz Inácio Lula da Silva fala em armação, numa espécie de desmentido preventivo. Não é fácil entender o comportamento de Amorin, especialmente porque é um magistrado, especialista em leis.
É uma norma conhecida que, ao ter conhecimento de um crime, o cidadão deve informá-lo às autoridades competentes. Se o desembargador conhece uma delinquência, sua atitude óbvia seria formalizar e encaminhar a denúncia. E não disseminar uma suspeita generalizada.
Como ele reagiria se algum político lançasse a denúncia de que, no Brasil, um presidente de Tribunal de Justiça receberia dinheiro sujo? Amorin exigiria (e com plena razão) que se apresentassem o nome e, sobretudo, as provas.
PS – Uma das cabeças mais geniais e bem-humoradas do país, Jô Soares contou como deveria funcionar o patômetro. Lançado ontem nesta coluna, esse aparelho seria criado para identificar os políticos que tentassem fazer os eleitores de pato. Jô recomenda que o patômetro seja um minúsculo transistor, instalado no cérebro de cada político e ligado ao comando de voz: "Quando o candidato começasse a enganar os eleitores num discurso ou entrevista, ele ficaria automaticamente com a voz do Pato Donald".

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