São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Amorim nega que PT esteja sob suspeita mas faz críticas a Lula

HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O desembargador Antônio Carlos Amorim negou ontem que o PT esteja sob suspeita ou sendo investigado por financiamento ilegal vindo do exterior. O presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afirmou, porém, que Lula "vestiu a carapuça".
Amorim chamou o líder do PT de desequilibrado, "por ter lançado impropérios contra mim sem motivo". Ele disse que votou em Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, mas que "agora não votaria nele nem para síndico de prédio".
O desembargador admitiu também ser amigo pessoal dos governadores Leonel Brizola (RJ) e Antônio Carlos Magalhães (BA). "Fiz greves estudantis com Brizola. Foi ele, como governador, que me nomeou desembargador, numa lista de três candidatos", disse. O juiz atendeu ontem a imprensa brasileira no Antico Caffé Greco, uma das cafeterias mais famosas de Roma.
Apesar da polêmica no Brasil, Amorim negou que quisesse favorecer qualquer candidato com suas declarações de suspeita de financiamento ilegal vindo do exterior para um partido político brasileiro. Ele não acha que cometeu uma gafe ao tocar no assunto, sem provas, em plena campanha eleitoral.
Amorim acusou a imprensa italiana, especificamente a agência "Ansa" e o jornal "La Repubblica", de terem distorcido as suas declarações e causado toda a polêmica. "Nós juízes temos muita pecisão com as palavras. Uma troca por um sinônimo já pode causar uma imprecisão", disse.
Ele negou novamente ter afirmado que o dinheiro viria da criminalidade italiana e que o destino seria um partido favorito nas eleições de outubro.
O procurador-geral de Roma, Vittorio Mele, divulgou ontem um breve comunicado oficial informando que não existe nenhum tipo de investigação na Itália sobre uma possível conexão brasileira de financiamento político ilegal.
Procurador
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio respondeu ontem em Roma às ameaças do procurador geral da República, Aristides Junqueira. Antônio Carlos Amorim chamou Junqueira de precipitado e disse que pode processá-lo.
Anteontem Junqueira disse que iria pedir a Amorim que provasse as denúncias de financiamento ilegal a um partido brasileiro. O procurador afirmou que Amorim poderia ser processado por não ter comunicado "uma denúncia muito grave" à Justiça no Brasil.~
"Quem ele pensa que é?", respondeu Amorim. "O Aristides é um homem precipitado. Se ele tivesse tido contato comigo, indagado sobre os fatos, poderia ter se posicionado", disse.
"Como ele pode acusar um cidadão brasileiro de prevaricação baseado em informações de correspondentes estrangeiros? Se ele quiser se entender comigo, eu também vou querer me entender com ele", afirmou.
Amorim disse que não comunicou a Justiça brasileira sobre a denúncia que recebeu em novembro pois "recebi informações sem provas". A denúncia teria sido feita por um alto funcionário do governo, uma pessoa "respeitável", segundo o desembargador.
"Achei que isso deveria ser investigado na Itália, por isso comuniquei aos juízes italianos e pedi que verificassem", disse Amorim.

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