São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Espetáculo infantil foge da redundância

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Peça: "Chimbirins & Chimbirons"
Direção: Vladimir Capella
Elenco: Aldo Avilez, Cleide Queiroz, Lizette Negreiros, Ronaldo Vianna e outros
Onde: Teatro Ruth Escobar, sala Dina Sfat (rua dos Ingleses, 209, tel. 251-4881)
Quando: Sábados e domingos, às 16h
Quanto: CR$ 1.500,00

O mago do teatro infantil, Vladimir Capella, estréia hoje o musical "Chimbirins & Chimbirons", uma superprodução de US$ 120 mil do Núcleo Zambelê, uma cooperativa de teatro (fez "Sexo, Chocolate e Zambelê"). O texto é de Marcos Arthur, com colaboração de Capella. Arthur também assina a direção musical. A cenografia e o figurino são de J.C. Serroni (que fez "Vereda da Salvação", dirigida por Antunes Filho, e "Morte Acidental de um Anarquista", de Dario Fó; veja box).
"Chimbirins & Chimbirons" mantém o universo mítico que caracteriza muitas das montagens de Capella. Agora, trata-se de um território imaginário, em um tempo remoto, também indefinido, com personagens arquetípicos. Dois grupos dividem esse lugar qualquer, lutam pela hegemonia do espaço. Uma chimbiron se apaixona por um chimbirin, os grupos tornam-se inimigos, há embate.
Os 16 personagens se expressam por meio de um canto lírico a capela –pura voz– em uma estranha língua quase-humana, sem significado algum.
A peça mostra certa nostalgia do paraíso –o mundo não é como se deseja e, assim, o amor não acontece. A história é contada por uma avó à neta. A certa altura –uma surpresa– ocorre a aproximação linguística com o presente, as mulheres falam na "língua do pê".
Segundo Arthur, 41, "os atores fazem os vocais como se fossem os instrumentos musicais. É mais bonito, a participação é direta, mais própria do teatro. O enredo ficou uma espécie de versão de 'Romeu e Julieta', é uma mistura de primitivo com neofuturismo". O diretor fez arranjos e trilhas sonoras para musicais ("Panos e Lendas", com Capella, "História dos Objetos Falantes", com Sílvio Ferreira Leite e Zambelê, e "Guaiú, a Ópera das Formigas", maior sucesso do Zambelê).
Capella criou espetáculos de alta qualidade no contexto infanto-juvenil, como "O Saci" e "Maria Borralheira" (com nova montagem prometida para junho). Diz que nunca teve fracasso de público, mas enfrenta dificuldades. "Interrompemos 'O Saci', porque não havia condições de pagar o trabalho dos técnicos; você fica dois meses em um teatro e precisa montar e desmontar o espetáculo".
Capella considera o teatro infanto-juvenil "ruim, previsível, redundante". "Mas dizer isso não muda nada, não quero falar para me tornar mais redundante ainda".
Serroni marca o espetáculo com um cenário "clean" e reclama da tradução excessiva no teatro para crianças. "O que vejo de teatro infantil é carregado, o espaço é entulhado. Procuro caracterizar os personagens através dos figurinos e adereços. Dou indicações. O ator dá as informações. Tento trazer a imagem do homem primitivo para uma linguagem próxima de hoje, da histórias em quadrinhos e do desenho animado," diz.

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