São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Dias acusa Quércia de 'objetivos escusos'

FREDERICO VASCONCELOS; MÁRIO SIMAS FILHO
EDITOR DO PAINEL S/A

MÁRIO SIMAS FILHO
O ex-governador do Paraná, Álvaro Dias, disse que "sem má fé ou objetivos escusos seria impossível o governo Orestes Quércia realizar as importações de equipamentos israelenses".
Em entrevista exclusiva à Folha, Dias afirmou que, em 1990, vetou operação semelhante proposta pela mesma intermediária, a Trace Trading Company, por considerá-la inaceitável "tecnicamente e moralmente". Segundo Quércia, as acusações de Dias "são palavras de um inimigo político".
A Trace ofereceu ao governo paranaense –em ofício datado de 14 de fevereiro de 1990– uma "fórmula alternativa" para agilizar a importação. O objetivo era evitar que a operação fosse submetida à aprovação do Senado, dos ministérios econômicos, e driblar os trâmites burocráticos necessários. Dias relata que a Trace exerceu forte pressão junto a secretários de Estado e a deputados.
"Tecnicamente, a operação implicaria endividamento externo, o que exigiria autorização do Senado", diz Dias. "A Trace alegou que não havia necessidade, porque havia uma operação concluída em São Paulo, via banco do Estado (Banespa) dois anos antes. Era uma forma de driblar, camuflar esse endividamento", diz Dias.
O ex-governador paranaense diz que "foi analisada a relação custo-benefício e verificado que esses equipamentos eram muito caros. Ficou evidente a ausência de condições legais e técnicas para a execução de uma operação desse tipo. Ela não se recomendava sob o ponto de vista ético, burocrático e legal", disse.
As revelações de Dias acontecem no momento em que o ex-governador paulista e o atual, Luiz Antônio Fleury Filho, estão sob investigação, com eventuais efeitos políticos no processo sucessório. A compra de equipamentos israelenses para as universidades e polícias paulistas –sem licitação e no total de US$ 310 milhões– está sendo investigada pelo Superior Tribunal de Justiça.
A proposta da Trace foi recusada pelo governo do Paraná com base em parecer da Procuradoria Geral do Estado, que considerou haver "clara e evidente lesividade e ilegalidade". O órgão atestou que "os equipamentos ofertados pela Trace, apesar de sua ótima qualidade e peculiar qualificação, possuem similares no mercado internacional".
A procuradoria paranaense analisou o parecer do jurista Hely Lopes Meirelles –peça que sustentou as compras realizadas pelo governo paulista– e concluiu que o projeto descrito pela Trace ao jurista "nada tem a ver com o negócio proposto ao Estado do Paraná, muito menos com o negócio realizado com o Estado de São Paulo".
Foi constatado que o pagamento antecipado a título de "sinal", que a Trace afirmara não existir no projeto, "consta, com todas as letras, da minuta do contrato apresentada ao governo do Paraná".

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