São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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GM quer ultrapassar Volks em 95

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A General Motors pretende terminar o ano de 95 como líder de vendas no mercado nacional, à frente da Volkswagen, que ocupa a posição há 27 anos. Esse é o desafio lançado à concorrência por Mark T. Hogan, 42, norte-americano nascido em Chicago, que desde dezembro de 92 ocupa o cargo de presidente da GM do Brasil. Confiante no sucesso do plano de estabilização econômica, Hogan diz que quatro ou cinco novos modelos serão lançados no ano que vem. Ainda em 95, a montadora pretende investir US$ 500 milhões no país, o dobro do previsto para 94. Para atingir uma produção de 500 mil unidades nos próximos dois ou três anos, a GM pretende instalar duas novas fábricas no país. Hogan diz que em cinco ou seis meses será anunciado o local de instalação da primeira delas, que deve ser construída em menos de 20 meses. Ele admite que o sucesso do Corsa superou todas as expectativas e que vai faltar carro até o final do ano. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - Como o sr. avalia o plano econômico do governo?
Mark T. Hogan - Nós damos todo apoio ao plano econômico e confiamos em seu sucesso. É fundamental ancorar a moeda brasileira a uma moeda forte como o dólar. A idéia da URV é muito boa. É uma proposta inteligente de fazer a transição para uma moeda estável. Agora é importante que as grandes empresas desempenhem um papel de liderança e administrem seus custos para evitar que a inflação dispare.
Folha - Como o sr. analisa a semana de lançamento do Corsa? O carro não é encontrado nas concessionárias e em algumas lojas de usados é vendido com até 47% de ágio. Isso preocupa a GM?
Hogan - Há dois anos, quando começamos o projeto, não podíamos prever o sucesso que seria o lançamento do Corsa. Apesar de todos os esforços para aumentar a produção, nossa capacidade ainda é insuficiente para atender à demanda. Pedimos paciência ao consumidor. Não queremos que ele pague ágio. Nossa produção este ano será de 80 mil unidades. Para atender ao mercado precisaríamos fabricar 150 mil carros. O ano que vem, com as modificações introduzidas na linha de montagem de São José dos Campos e a implantação do terceiro turno, pretendemos dobrar a produção.
Folha - A GM pensa em alterar seus planos de investimentos no país?
Hogan - Este ano vamos investir US$ 250 milhões. Mas se esse plano de estabilização der certo, e se o governo reduzir impostos, o setor automobilístico deve dobrar sua produção em três ou quatro anos. Se a indústria cresce, os investimentos da GM também crescem.
Folha - Esse aumento de investimento começa quando?
Hogan - Já no final deste ano. Provavelmente já estaremos investindo US$ 500 milhões em 95, por causa da construção de novas fábricas.
Folha - Onde elas serão instaladas?
Hogan - Estamos discutindo com autoridades de vários Estados –São Paulo, Rio, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina. Devemos definir o local da primeira fábrica em cinco ou seis meses.
Folha - Que critérios a GM vai utilizar para escolher o melhor local para a nova fábrica?
Hogan - Em primeiro lugar, a questão logística. Precisamos de fácil acesso para todo o país e também para o mercado externo. É preciso contar com boa infra-estrutura e mão-de-obra especializada na região. Os incentivos fiscais são importantes, mas não tanto como os três pontos anteriores. O que queremos são condições para estabelecer uma fábrica de tipo novo, o que chamamos de manufatura enxuta, onde parte da montagem já é feita fora da linha de montagem, pelos fornecedores de autopeças. Estamos desenvolvendo o projeto com base no que está sendo feito na Nummi, joint venture GM-Toyota, na Califórnia, a fábrica do Saturn, no Tennessee, e Eisenach, na Alemanha.
Folha - Essas fábricas terão capacidade para fabricar quantos veículos?
Hogan - Não posso falar sobre isso, porque acabaria revelando meus segredos para a concorrência.
Folha - Em que fase está o projeto?
Hogan - O layout está praticamente pronto. A construção deve durar 20 meses ou até menos.
Folha - Qual é o faturamento previsto para 94?
Hogan - Nosso faturamento em 93 foi de US$ 3,2 bilhões. Nosso objetivo é faturar US$ 3,5 bilhões em 94 e US$ 4 bilhões em 95.
Folha - Quantos carros serão produzidos este ano?
Hogan - O objetivo é chegar a 300 mil unidades. Para 95, deveremos crescer mais 10%. Mas para estabelecer uma liderança no mercado, que crescerá com a estabilização da economia, é preciso ter capacidade para produzir 500 mil veículos.
Folha - A GM pretende, então, atingir a liderança do mercado em 1997, quando estiver fabricando 500 mil veículos?
Hogan - Nosso objetivo é estar na liderança de vendas já no final de 95. É difícil fazer previsões por causa do crescimento do mercado, em especial do mercado de carros populares, mas temos chances de superar a Volkswagen nesse prazo.
Folha - A GM pretende também entrar no mercado dos carros importados de forma mais agressiva?
Hogan - Queremos fabricar veículos no país, não importar. Mas também vamos trazer de fora alguns carros para atender a nichos de mercado. Mas não este ano. Apenas em 95, quando deveremos importar cerca de 10 mil.
Folha - Quais sãos os planos para exportação?
Hogan - Queremos exportar 100 mil carros por ano a partir de 96, quando já tivermos as novas fábricas. Vamos exportar basicamente o Corsa, outros carros compactos e possivelmente caminhões e picapes. Esses carros serão vendidos principalmente para a América Latina, África do Sul e Ásia.
Folha - A produtividade da GM brasileira é suficiente para aguentar a competição no mercado internacional?
Hogan - Nossa produtividade atual é de 20 carros por empregado/ano. Mas o objetivo é atingir cem carros por empregado/ano nas novas fábricas.
Folha - Como o sr. vê a presença dos veículos importados no mercado?
Hogan - O governo precisa proteger a indústria instalada no país. É preciso exigir de quem quer importar, que também produza aqui no Brasil. Nos EUA, por exemplo, quando as importações de carros japoneses cresceram muito, o governo exigiu que essas empresas começassem a instalar suas fábricas no país.
Folha - O sr. acaba de ser promovido à vice-presidência da General Motors, mas continua no comando da GM do Brasil. Quais serão as suas novas funções na empresa?
Hogan - Essa promoção é o reconhecimento aos progressos feitos pela GM do Brasil. Não sei ainda quais são minhas novas responsabilidades. Vou falar com meus patrões sobre isso no final de semana.

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