São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Sesc discute obra de Jorge Andrade

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Jorge Andrade, um dos maiores dramaturgos brasileiros, morreu no dia 13 de março de 1984, aos 61 anos. Para homenagear o autor de "A Vereda da Salvação", "A Moratória" e "Os Ossos do Barão", o Sesc-Consolação organizou um ciclo de debates que começa hoje (veja quadro ao lado). Participam alguns dos maiores conhecedores da obra de Andrade, entre eles Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi.
Aluízio Jorge Andrade Franco nasceu em na cidade de Barretos, no interior de São Paulo, em maio de 1922. Descendente de uma família tradicional, os Junqueira, tinha sete anos quando a grande crise econômica internacional, iniciada com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, derrubou os preços do café e praticamente destruiu a riqueza da família. Dos 30 mil alqueires das fazendas dos Andrade, sobraram 61.
Jorge era o filho mais velho. Esperava-se que estudasse direito. Ele veio à São Paulo, mas não conseguiu se interessar. Passou um tempo trabalhando em um banco, e voltou a Barretos, onde morou até 1951. Nesse mesmo ano, depois de assistir a uma peça, resolver dedicar-se exclusivamente ao teatro. Entrou para a Escola de Arte Dramática (EAD) da Universidade de São Paulo. No mesmo ano, escreveu sua primeira peça, "O Telescópio".
Em 1954, com "A Moratória", começou a ser conhecido. "Tive um certo papel nesta questão, já que fui eu que dei a Gianni Ratto o texto da peça", diz o crítico e professor Décio de Almeida Prado. A montagem de Ratto foi um sucesso, e a peça foi considerada a melhor do ano. "O problema da relação entre pai e filho, presente em toda a obra dele, já estava aí, muito bem trabalhado dramaticamente. Além disso, a peça tem uma soluçao teatral muito bem realizada, com a divisão do palco ao meio e a apresentação de dois tempos da história no mesmo momento", lembra o crítico.
"Vereda da Salvação"
O diretor Antunes Filho, um dos grandes admiradores da obra de Andrade, está reeencenando agora em São Paulo "Vereda da Salvação", em cartaz no Teatro do Sesc Anchieta. Antunes dirigiu a peça pela primeira vez há 30 anos. "Eu a considero a obra-prima de Jorge Andrade, um autor injustiçado à esquerda e à direita. A esquerda o achava reacionário e alienado da realidade, por causa dos temas de suas peças, e a direita, considerava-o comunista. Como Nelson Rodrigues, aliás. No caso de Jorge, havia também o preconceito gerado por sua relação com a TV."
Em 1973 , Régis Cardoso dirigiu uma adaptação de duas peças de Andrade, "A Escada" e "Os Ossos do Barão" para a TV. A telenovela, que ganhou o título da última, contou com atores como Paulo Gracindo, Lima Duarte e Dina Sfat.
O editor Jacó Guinsburg, da Perspectiva, que reuniu praticamente toda a obra de Andrade em "Marta, a Árvore e o Relógio" (cuja primeira edição é de 1970), também acha sua dramaturgia "uma das mais importantes na história do teatro brasileiro. É dele o único ciclo que abrange todo um universo, o mundo rural de sua época. É trabalho que tem projeções políticas muito atuais".

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