São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
Próximo Texto | Índice

Fazenda baiana testa opções ao cacau

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL A ITUBERÁ (BA)

Ituberá, a 300 quilômetros de Salvador, continua cheirando a cravo e a paisagem predominante ainda é composta pelas seringueiras e pés de cacau.
Mas duas culturas podem mudar cenário e aroma dessa pequena cidade de 25 mil habitantes no sul da Bahia. Até novembro, em fase experimental, o mercado de Salvador começará a consumir palmitos e ornamentar casas, hotéis e restaurantes com flores tropicais exóticas produzidas em Ituberá. Em mais um ano, as flores começarão a ser exportadas para Alemanha e EUA.
O engenheiro agrônomo Danilo Viana Lima, 30, dono de uma propriedade de 200 ha em Ituberá, está à frente nessa tentativa de mudar o perfil agrícola da região.
Em 91, ele começou a diversificar sua fazenda, com a introdução da pupunha, palmito que pode ser cortado aos dois anos e, portanto, mais lucrativo que as variedades açaí (corte aos 10 anos) e jussara (aos oito anos).
O segundo passo foi a pesquisa com as flores tropicais de corte (leia texto abaixo).
A Fazenda Piauí, de Viana Lima, que até recentemente se dedicava apenas ao plantio do cacau e da seringueira, tem hoje 15 hectares com pupunha e planeja aumentar a área para 50 hectares.
"Reduzimos a área de cacau para apenas 20 hectares e só não desativamos a cultura porque antes precisamos consolidar a pupunha e as flores. Enquanto isso, o que sobrou do cacau e a manutenção que continuo dando nas seringueiras vão pagando a folha dos 15 empregados", afirma Viana Lima.
A Fazenda Piauí consegue com o plantio ecológico da pupunha – não se trata de extrativismo ou de depredação da natureza, faz questão de dizer Viana Lima – preços na mesma faixa que os obtidos pela Costa Rica, país pioneiro na plantação e beneficiamento desta variedade.
Um vidro com 1.700 gramas de pupunha está sendo comercializado por US$ 12,50. O vidro pequeno, de 300 gramas, chega ao mercado por US$ 2,00.
"Hoje ganho mais com a pupunha do que com o cacau", diz o agrônomo. Pelas contas da Fazenda Piauí, enquanto a pupunha bruta (sem beneficiamento) rende US$ 2.400/ha, o cacau retorna ao produtor US$ 600/ha.
Cada empregado da Fazenda Piauí consegue cortar 250 hastes de pupunha por dia. A colheita poderia ser melhor, na casa das 600 hastes por homem, reconhece Viana Lima. "A diferença acontece porque o plantio está consorciado com a seringueira e passamos um pouco da época do corte. Na Costa Rica, a colheita rende mais porque eles cortam o palmito com diâmetro mais fino. No Brasil, o mercado prefere consumir palmito mais grosso."
Se as contas favorecem o produtor, o comércio ainda tem barreiras que desestimulam a venda do palmito que não é clandestino. De acordo com Viana Lima, a burocracia para licenciar o produto é tão grande quanto a concorrência dos produtores clandestinos, que fazem a extração (proibida) do palmito nativo da Mata Atlântica.
"Mas se conseguirmos superar esses problemas, a pupunha será uma boa alternativa ao cacau nesta região", diz Lima.

Próximo Texto: Flor chega a valer US$ 8
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.