São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Vinhetas exploram espacialidade do vídeo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quais serão os mistérios das vinhetas televisivas, que fazem com elas sejam tão eficientes em monitorar o que se passa na telinha? O "Plim-Plim" da Globo é o caso clássico de clamor eletrônico pela atenção de telespectadores imersos nos dispersantes afazeres do lar.
Inspiradas na vinheta global as outras redes criaram filmes semelhantes, que pontuam o fluxo contínuo de sua programação. Talvez a força dessas vinhetas platinadas, produzidas através de computação gráfica, esteja na sua capacidade de explorar dimensões não preenchidas pela linguagem corriqueira da televisão. As vinhetas das redes de televisão pronunciam um clamor sentido para que os telespectadores não abandonem as delícias da telinha. Elas nos convidam a conhecer as profundezas do espaço da tela, desenvolvendo uma tensão com a programação, presa das conhecidas limitações que fazem com que a imagem televisiva perca para a profundidade e a fineza do detalhe cinematográficos.
A narrativa televisiva mais simples é fruto da edição de imagens colhidas em estúdio por três câmeras que pouco se movimentam. O resultado é um produto chapado, que se vale da proximidade garantida por inúmeros close-ups e planos médios e da movimentação de cena para preencher a tela. Em contraste com essa imagem tópica, as vinhetas eletrônicas nos convidam a um mergulho de profundidade, enfrentando o espaço vazio do vídeo. Todas elas se baseiam em movimentos de torção e deslocamento de logotipos geométricos fragmentados e destacados no centro da tela.
Formas eletrônicas se decompõem nos pequenos cubos da Cultura, nas esferas concêntricas da Globo, nos anéis da Manchete, lembrando a natureza pontilhada da imagem do vídeo. Essas partículas saem da superfície da tela, realizam um mergulho de profundidade para, em fração de segundos, inaugurar nova superfície. Não sei se nas acrobacias, milimetricamente cronometradas para acompanhar a música, os logotipos eletrônicos conseguem fixar nossa atenção por um tempo que além de sua performance, mas certamente pesquisam novas dimensões do espaço televisivo.

O colunista JOSÉ SIMÃO está em férias durante o mês de março

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