São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Discordo de como discordam da seleção

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, como se viu nesta Folha ontem, o setor futebolístico brasileiro discorda muito pouco da seleção idealizada por Parreira.
As diferenças ficam por conta de três palavras, como diria o lero-lero do bolero: Zetti, Branco e Dunga.
Eu não, meu. Eu não, gavião.
Eu discordo radicalmente da maneira como o setor futebolístico discorda um pouquinho só do time do Parreira.
Digo mais: eu não penso que o Brasil com esta formatação não pode ganhar a próxima Copa do Mundo.
Poder, eu, você, nós dois que já temos um passado, meu amor, sabemos que pode, não é mesmo?
Mas, para mim, muito é muito pouco, se é que o querido ouvinte me entende.
Johann Cruijff acalenta o sonho de ver alguma seleção "outsider" vencer esta Copa para quebrar a hegemonia futebolística atual.
Eu digo sim. E eu digo justo. E eu digo não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa.
É compreensível que, depois de tanto tempo, se queira uma vitória, nem que seja a do pragmatismo.
Mas é preciso ver que cortou os céus o raio de uma possibilidade maior. Aqui e ali se criam as condições para um novo momento revolucionário no fut.
Make it new, como diria o poeta. Eu já estou com um pé nesta estrada.
E é por acreditar que o Brasil seria mais feliz com Edmundo, Bebeto, Romário, Dener e Muller e que o Palmeiras seria um rio que passou em nossas vidas jogando com Edmundo, Edílson, Evair, Rincón e Zinho que eu te digo, meu amigo, meu irmão de fé, camarada:
–Alô, alô, Mancha, alô, alô, magnética verde: sem essa de responsabilizar o Wanderley Luxemburgo pela crise momentânea que o time -jogando dia sim, outro também– está passando.
WL é um individuo competente, como diria aquele locutor. Trouxe o títulos que o Palmeiras tanto queria. Teve serenidade para contornar várias crises. Esta também deverá passar pela avenida como o samba popular.
Olhaí mocidade alegre, olhaí mocidade independente, olhaí rapeize: o Luxemburgo é dez. E atrás da verde-e-branco só não vai quem já morreu, morou na filosofia?
Mudando de conversa (como é que ficou aquela velha amizade?), garoto, nunca houve tanta coisa legal (e legal é a Gal, que é gol) para se ler sobre o futebol brasileiro como agora.
Há muito tempo que eu queria te contar que ler o ensaio do mestre Anatol Rosenfeld sobre o futebol brasileiro é preciso.
Ele foi publicado há 20 anos, nos anos hippies, no ano das viagens, no ano ainda de algum negror dos tempos, no ano do Asdrúbal, no ano da Argumento, no ano da revolução holandesa na Copa alemã, no ano em que o Corinthians quase perdeu todas as suas esperanças para o Palmeiras, no ano em que...
O ensaio foi republicado no livro "Negro, Macumba e Futebol", co-edição da Pespectiva com a Edusp e Editora da Unicamp. Toque, de primeira: para Rosenfel o futebol era verdadeiramente uma "constelação estética". Uau!
Pois bem, vinte anos antes, –1954, ano da Regina Casé, do Zé Victor Oliva, da Joyce Pascowitch, do Bob Wolfenson e deste locutor que vos locupleta– três brasileiros foram à Copa da Suíça, uma Copa muito citada pela atuação húngara, mas de pouca memória brasileira.
Pois bem, esses três brasileiros resolveram contar em livro o que viram nesta Copa. São eles: Armando Nogueira, Jô Soares e Roberto Muylaert. Pode correr para abraçar que é gol –ou melhor, uma tripleta, como as do Romário no Barça.

Texto Anterior: Alcindo garante a vitória do Kashima; Graf e Pete Sampras vencem nos EUA; Australiana bate recorde em Brisbane; Farah não aparece para depor na PF; Paula deve acertar com Unimep hoje; Liga masculina pode ter semifinalista hoje; Mamede é reeleito na Confederação
Próximo Texto: Sopa de tamanco
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.