São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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'Paris is Burning' traz origem do vogue

ERIKA PALOMINO
DA REDAÇÃO

Momento importante para quem se interessa por comportamento e cultura club. O bar Paparazzi faz hoje às 21h uma exibição do filme "Paris is Burning", um documentário norte-americano de 1992 sobre o nascimento da dança vogue (leia abaixo sobre o complemento do programa, o vídeo "The Post Queer Tour"). Inconveniente: os dois filmes não trazem legendas. Mas as imagens já compensam.
Quando Madonna estourou o hit "Vogue", em 89, virou moda ir às boates gays em Nova York e, assim, as pessoas viram como se dançava nesses lugares. A dança do momento era, justamente, o "voguing', ou vogue, como acabou ficando conhecida no Brasil. Mas poucos sabem a origem de tudo isso, mais social do que poderiam transparecer os marcados movimentos dessa dança, que lembram as poses das modelos de revistas como a "Vogue".
"Paris is Burning" começa em 86 –por dificuldades financeiras só pôde ser concluído de 91 para 92. O título do filme é o nome do galpão no bairro negro do Harlem em que aconteciam inusitados concursos de "desfiles", como o que as meninas fazem na infância. Seus participantes –todos gays– interpretavam, na passarela, personagens como executivos, militares, escolares, peruas.
O caráter das competições era quase o do Carnaval brasileiro: gente que, por um momento, tem a oportunidade de viver uma fantasia de um mundo de glamour. Os vencedores mais habituais iam ficando mais poderosos e formando grupos, as chamadas "houses". As "houses" eram assim, o equivalente gay das gangues negras, com integrantes que se valiam das competições para garantir sua sobrevivência e aceitação.
As "houses" passaram a competir entre si e os desfiles foram evouindo para uma movimentação mais dançada mesmo. A verborragia gay –que eles chamam no filme de "reading"– levou ao que se conhece como "shade", o que na gíria da noite em São Paulo seria o "apodrecimento", ou seja: diminuir ou debochar o outro. Daí surgiu o vogue, como um duelo de gestos, para decidir de uma vez quem era o melhor. Assim, "Paris is Burning" não traz o clima de glamour dos vídeos da Madonna. Traça um retrato de um grupo, não se restringindo, portanto, à cultura gay. Histórico. (Erika Palomino)

Filme: Paris is Burning
Direção: Jennie Livingstone
Quando: Hoje às 21h
Onde: Paparazzi Bar (r. da Consolação, 3.046, tel. 881-6665, Cerqueira César, zona sul de SP). Entrada gratuita.

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