São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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Brasil usa reservas para fechar acordo com bancos

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

O governo brasileiro está usando parte de suas reservas cambiais para garantir o fechamento do acordo de renegociação da dívida externa. O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, se reuniu ontem em Nova York com o presidente do Comitê Asses
sor dos Bancos Credores, William Rhodes, durante cerca de 35 minutos. Na saída, os dois comunicaram que a data de 15 de abril está mantida para a conclusão do acordo. "Nossas reservas nos permitem fazer um empréstimo-ponte para nós mesmos", disse
o ministro. Rhodes disse que os bancos entrarão com "dinheiro novo" -o Citibank, por exemplo, emprestará USS 100 milhões.
Informações do mercado financeiro atestam que o Brasil já comprou os "zero cupon" (ou "bônus zero", do Tesouro norte-americano, papéis que dão garantia aos bancos credores na renegociação da dívida dos países devedores.
Os bancos credores devem anunciar oficialmente hoje que concederão o "waver", ou seja, suspenderão a clásula do acordo que exigia o aval do FMI. Rhodes disse que o documento do FMI indica progressos no plano FHC. "Ainda que não haja uma carta de intenções, o Comitê vai recomendar aos demais bancos que prossigam com o acordo e façam a troca dos papéis", disse o presidente do Comitê.
No momento da troca dos títulos da dívida, serão necessários US$ 2,8 bilhões para garantir o pagamento do principal e dos juros da dívida. A intenção do governo brasileiro era que o FMI contribuísse com US$ 1 bilhão. Esse dinheiro agora está saindo das reservas cambiais brasileiras, que atualmente somam US$ 35 bilhões.
"Nós não estamos desistindo da cooperação do Fundo, nem do Banco Interamericano de Desenvolvimento nem do Banco Mundial. Mas nossas reservas são bastante altas e podemos nos dar ao luxo de fazer um empréstimo-ponte para nós mesmos até conseguirmos o stand-by do FMI", disse o ministro Fernando Henrique. Ele disse também que o Tesouro norte-americano poderá emitir os cupons-zero em um momento posterior.
O ministro e o presidente do Banco Central, Pedro Malan, não quiseram dizer quanto o Brasil gastará na compra dos cupons-zero. "Tudo o que posso dizer é que não teremos problemas", disse Fernando Henrique. O presidente do Banco Central disse que apenas o principal da dívida será garantido com os cupons-zero, mas não determinou qual é esse valor.
O ministro afirmou que o Brasil ainda poderá mandar uma carta de intenções de intenções ao FMI, mas não antes da estabilização do real. "Neste momento, nós não queremos nos comprometer, por exemplo, em estabelecer uma data para a emissão do real", disse Fernando Henrique.

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