São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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Sam Raimi acaba com velório no cinema

HÉLIO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Uma Noite Alucinante 3 (Army of Darkness)
Produção: Robert Tapert (EUA, 1992)
Direção: Sam Raimi
Elenco: Bruce Campbell, Embeth Davidtz e Bridget Fonda
Onde: cines Marabá e Aricanduva 2

Se você já não aguenta mais chorar com os filmes do Oscar, vá de Sam Raimi. Adeus baixo-astral, sentimentos de culpa e indignação. "Uma Noite Alucinante 3", que estréia hoje em São Paulo, é um poderoso antídoto contra o clima de velório que tomou conta dos cinemas nas últimas semanas.
Pastelão da linhagem dos filmes de Mel Brooks; movimentos de câmera e edição nervosa, típica dos irmãos Coen em "Arizona Nunca Mais"; atmosfera macabra, com um exército de esqueletos sanguinários atacando o herói. Tudo isso está em "Uma Noite Alucinante 3" (Army of Darkness), do diretor norte-americano Sam Raimi, o mesmo de "Darkman".
Continuação da série "Evil Dead" (traduzido no Brasil como "Uma Noite Alucinante"), este terceiro filme leva Ash (o protagonista das outras histórias, interpretado pelo excelente canastrão Bruce Campbell) à Idade Média, mais exatamente ao século 14. E Ash luta contra o tal exército de esqueletos e outros monstros armado com uma serra elétrica, uma espingarda e um carro modelo 73.
O roteiro de "Uma Noite Alucinante 3" não é grande coisa. Não importa. A graça não está mesmo nos diálogos, mas nos movimentos de câmera e na edição. Durante uma perseguição, uma câmera subjetiva arrasa tudo o que lhe aparece na frente. Em fúria, divide uma árvore ao meio e segue impávida atrás do herói Ash. Tudo sem corte aparente.
"Uma Noite Alucinante 3" é daqueles filmes que intrigam o espectador com perguntas do tipo "como o cara conseguiu fazer isso?" E Sam Raimi, sabe lá Deus –ou o diabo– como, consegue fazer cinema de verdade. O que importa para ele é a imagem.
Pouco conhecido no Brasil, mas venerado nos circuitos alternativos dos EUA desde o início dos anos 80, Raimi é uma espécie de primo pobre e amalucado de Wes Craven, que chegou ao mainstream com "A Hora do Pesadelo" e o personagem Freddy Krueger.
O primeiro filme da série "Uma Noite Alucinante", de 1982/83, foi filmado em 16 mm com US$ 350 mil arrecadados entre amigos. Na época, Raimi tinha 22 anos. Recusado pelos grandes estúdios, "Uma Noite Alucinante" foi saqueando prêmios nos festivais de filmes de terror por onde passava.
Em breve, Sam Raimi vai estar nos créditos de "Hudsucker Proxy". Ele é o autor da história da mais recente produção dos irmãos Coen, que tem no elenco Paul Newman, Jennifer Jason Leigh e Tim Robbins. Raimi e os Coen são velhos amigos. Foi Joel quem editou o primeiro "Uma Noite Alucinante". Raimi agora dirige Sharon Stone no western "The Quick and the Dead", que estréia nos EUA ainda em 94.
Para sorte dos novos espectadores e azar dos fãs que se deliciam justamente com a precariedade dos filmes do início, Raimi realmente está mais sofisticado. Para os velhos fãs e os que pegam o bonde agora, é sair do cinema direto para uma locadora à procura do primeiro filme da série. Para matar as saudades ou conhecer a fase mais thrash do diretor.

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