São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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Franceses protestam por salário

FERNANDA SCALZO
DE PARIS

Entre 30 mil e 35 mil pessoas, segundo a polícia –50 mil, de acordo com os organizadores–, fizeram uma manifestação ontem à tarde em Paris para protestar contra o Contrato de Inserção Profissional (CIP). Os estudantes e os sindicatos, que também reuniram cerca de 180 mil em outras cidades da França, estão jogando um braço-de-ferro com o primeiro-ministro Edouard Balladur, que se recusa a retirar o decreto do CIP (um plano contra o desemprego que prevê a contratação de jovens por 80% do salário dito convencional).
Como a manifestacão realizada no último dia 10, a de ontem terminou em quebra-quebra, apesar dos mais de 3.000 policiais da tropa de choque espalhados ao longo da passeata. Segundo o ministro do Interior, Charles Pasqua, cerca de 300 jovens dos subúrbios foram à passeata com a intenção de promover o confronto entre policiais e manifestantes. Os carros incendiados e as vitrines quebradas levantam novamente a discussão sobre uma explosão social iminente.
O premiê Balladur fez publicar ontem no jornal "Libération" sua "Carta aos jovens". "Uma única inspiração nos guiou: tentar evitar que 750 mil jovens sejam privados de emprego e que isso continue sem que ninguém faça nada para impedir", escreve Balladur sobre o objetivo do controvertido CIP.
No fim da tarde, o ministro do Trabalho, Michel Giraud, anunciou que o decreto do CIP será mantido e entrará em vigor na próxima segunda-feira. De um lado, o governo não quer recuar nesse decreto como já fez com a chamada lei Falloux, em janeiro, depois de uma enorme manifestação. Mas, de outro, existe o temor de que o protesto contra o CIP possa se tornar o estopim para um novo Maio de 68, ou uma explosão social.
A passeata começou por volta das 15h na praça Denfert-Rochereau. Todas as ruas adjacentes ao percurso, principalmente as de maior comércio, estavam guardadas por policiais. Coisa inédita nos últimos 30 anos, todos os sindicatos, mesmo os desafetos, desfilaram juntos (ainda que cada um com seu grupo). Os estudantes tentaram manter a ordem, promovendo eles mesmos cordões humanos que isolavam a passeata. Mas logo começaram alguns enfrentamentos com a polícia e depredações.
Por volta das 17h, os sindicatos e os estudantes terminaram a manifestação, que deu lugar ao quebra-quebra. No boulevard des Invalides, mais de 15 carros foram depredados e incendiados. Os cerca de mil jovens que permaneciam na praça dos Invalides atacaram os policiais com pedras e o que mais estivesse à mão. Cerca de cem jovens foram detidos e 32 policiais ficaram feridos. Na rua Saint-Dominique, perto da praça, várias vitrines foram quebradas.

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