São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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FHC critica atitude 'pretensiosa' do PT

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que "preferiria ter alguém" que pudesse apoiar para a Presidência da República. Segundo FHC, se não fosse pela atitude "pretensiosa e equivocada" do PT, seria possível negociar com o partido.
"O problema do PT é que o partido tem idéias muito definidas e que se opõem ao curso das coisas. O PT tem a sensação de que, por direito divino, cabe a ele governar o Brasil", disse FHC. "E tudo o que não for PT é como se fosse crime de lesa-majestade."
O ministro da Fazenda afirmou que não acredita em alianças entre o seu partido (PSDB) e algum outro para o primeiro turno da eleição presidencial. Mas, perguntado sobre as negociações entre o PSDB e o PFL, disse que "ainda é cedo para falar em alianças".
Fernando Henrique afirmou que não assumirá, caso realmente concorra à Presidência, uma candidatura anti-Lula no primeiro turno. Perguntado se seu nome poderá polarizar o apoio das forças conservadoras contra o candidato do PT, disse que "qualquer um polariza. É a mesma coisa que dizer que o Lula vai polarizar as forças mais alopradas". Segundo a análise do ministro, a lógica da eleição em dois turnos é "perversa, porque divide e polariza".
O ministro não confirmou, no entanto, sua candidatura à Presidência. Disse que precisa pensar no que é melhor para o Brasil e para ele próprio. "Tenho que ser muito responsável. Já fui candidato mais de uma vez. Eu sei que no primeiro momento parece fácil, mas depois não é bem assim."
"E eu tenho uma ligação muito forte com esse plano econômico, não posso simplesmente jogar tudo para o alto", disse o ministro. Segundo ele, é preciso achar um caminho de sustentação do plano mesmo na ausência do atual titular do ministério da Fazenda.
FHC disse que foi a instabilidade gerada pela CPI do Orçamento que lhe deu as condições para aprovar seu plano de ajuste fiscal no Congresso. "Se o sistema político estivesse sólido, não haveria mudanças. Contra a opinião de todo mundo, eu disse: agora dá para fazer e nós vamos fazer", disse.
O ministro da Fazenda está em Nova York acompanhado de sua mulher, Ruth Cardoso, que participa desde o começo da semana de um seminário do Social Science Research Council, no qual ela é uma das seis pessoas que representam a América Latina. O ministro chegou quinta-feira de manhã, vindo de Washington, onde havia se reunido com o presidente do FMI, Michel Camdessus.
Tanto o ministro como sua mulher negam que o encontro em Nova York tenha como objetivo chegar a uma decisão sobre a candidatura a presidente. "Não tem cabimento sair ou não candidato porque a mulher quer", disse Ruth. "Ela é racional", disse FHC.Ruth Cardoso afirmou que são improcedentes versões publicadas na imprensa de que ela se opõe a uma aliança PSDB-PFL. "Eu não tenho nenhuma vinculação partidária. Quem é candidato é o meu marido. Se for candidato."

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