São Paulo, sábado, 19 de março de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Sem invenção o futebol não valerá a pena
MATINAS SUZUKI JR.
A primeira, é a do cartão vermelho para o carrinho por trás, um hábito dos jogadores brasileiros (Raí, por exemplo, utiliza muito este recurso para tirar a bola dos adversários). O outro, é o do maior flexibilidade (em favor do atacante) na interpretação dos impedimentos. A linha de quatro zagueiros, que é como se joga no Brasil, dificilmente –talvez pela ausência do líbero– executa um jogada de conjunto que requer a precisão no tempo de uma filarmônica. Trata-se da avanço rápido e coletivo da defesa para encurtar o campo e deixar o adversário em posição de fora de jogo. A revolucionária laranja mecânica holandesa fez isto com maestria e talvez, com o Arrigo Sachi, o maravilhoso Milan dos 80 (não o time medroso e covarde dos dias de hoje; alô, alô, Sílvio Lancellotti, concordo integralmente com a sua análise do Milan do Capello) a tenha executado da maneira mais perfeita. Seja como for, entre os times europeus, é comum este tipo de utilização voluntária do impedimento. No Brasil, esta jogada sem bola sempre encontrou alguma dificuldade para ser tocada harmonicamente e no mesmo andamento. Criou-se até uma expressão, a chamada "linha burra", para condená-la. Em tese, os times europeus, por usarem mais vezes esta saída em linha da defesa, deveriam ser os mais prejudicados. Mas como os jogadores brasileiros tendem a a) saírem descompassados e desalinhados, aumentado a vulnerabilidade deste movimento de alto risco e b) também não são especialistas no ficar na marcação homem-a-homem na última linha da defesa, tudo indica que precisamos começar a fazer um trabalho de ensaio e treinamento para não sermos surpreendidos pela novas determinações do conselho de arbitragem da Fifa. Determinações que podem aumentar um pouco a já grande margem de subjetividade na interpretação das regras –notadamente nos casos de impedimento– mas que, na minha opinião, estão plenamente corretas no espírito. E nada como procurar no passado as lições do futuro. O pensamento dominante (e profundamente conservador) hoje no futebol é de que os esquemas táticos que estão aí não podem ser alterados, que não há espaço para mudanças no futebol e, mesmo que houvesse essa oportunidade, não haveria tempo para aplicá-las. Pois bem, Johann Cruijff conta em seu livro "Futebol Total" que: A) Quando a seleção holandesa que revolucionou o futebol há 20 anos atrás se apresentou para os treinamentos para a Copa, já tardiamente, ela não tinha um time completo (apenas 18 jogadores se apresentaram), as condições físicas dos jogadores era precário e não havia nenhuma tática ensaiada; B) Cinco jogadores começaram a jogar a Copa estreiando na posição e mudando as suas características de jogar; C) Todos os jogadores eram craques e, portanto, tinham facilidade para se adaptar às novas posições; D) E, além disso, havia um gênio como técnico, Rinus Michels, disposto a arriscar tudo em uma nova mudança. Digo e repito que o Brasil tem hoje jogadores para tentar algo de novo. Se o espírito de invenção não for recuperado, o futebol, em muito pouco tempo, não valerá a pena. Texto Anterior: Vida de Harding vira filme nos EUA; O NÚMERO; Pete Sampras é o 1º finalista na Flórida; Sorteio para Mundial da França será em 95; Viola não aceita proposta de Maurício; Zola e Massaro são chamados por Sacchi Próximo Texto: Fórmula Indy em três canais Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |