São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Mudar de empresa esbarra na ética

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um executivo decide sair da empresa onde trabalha. Despede-se da equipe e vai embora carregando disquetes, documentos, estatísticas e projetos confidenciais. No dia seguinte, é contratado pelo concorrente de seu antigo patrão e entrega um atraente dossiê. As empresas muitas vezes driblam a ética com tanta eficiência, no esforço de derrotar seus concorrentes, que parecem copiar as táticas usadas durante a Guerra Fria.
"A questão ética, nesses casos, é delicada", diz Jan Krotoszynski, 60, sócio da Tasa International, consultoria de headhunting (especializada na procura de executivos para empresas). Não é possível coibir alguém do exercício de sua profissão nem do direito de buscar emprego em seu meio natural, a concorrência. "Vir de uma empresa do mesmo ramo, a princípio, não cria um problema ético", afirma Guilherme Velloso, 49, diretor da PMC-Amrop, também de headhunting. "Mas entregar segredos atuais é condenável."
"É preciso separar as informações reservadas da empresa onde trabalhou dos interesses de sua atual empregadora", afirma Emílio Julianelli, ex-vice-presidente da IMC (importadora dos carros Lada e Subaru) e atual vice-presidente da Mitsubishi Motors.
Segundo Maria Cecília Coutinho de Arruda, 42, coordenadora do Centro de Estudos de Ética nos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a obtenção de dados por meio da contratação de profissionais da concorrência é frequente. Algumas empresas tomam precauções para preservar o executivo, ao mesmo tempo em que fecham seus projetos a sete chaves.
Alguns profissionais –como os diretores– são particularmente atraentes para empresas concorrentes devido ao acesso a áreas estratégicas. Gerentes também costumam ser "assediados", principalmente os das áreas de RH, finanças e marketing –bem como técnicos de processamento de dados e do setor de desenvolvimento de produto.
Ramo particularmente vulnerável à circulação dos executivos, os bancos colocaram uma pedra em algumas discussões éticas, como a que envolve as carteiras de clientes. Atual presidente do Banco Pontual, José Baía Sobrinho, 50, deixou o BMC há quatro anos e um de seus primeiros esforços foi o de resgatar seus antigos clientes. "Já se tornou um consenso no mercado o fato de o gerente ter os clientes, não a instituição", afirma Baía.

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